5 de ago. de 2013

“Laranja Mecânica” de Anthony Burgess. Aleph (2012), 350 página.


Não seria estranho que algumas pessoas desconhecerem que o famoso filme de Stanley Kubrick foi inspirado em um livro homônimo publicado nove anos antes do filme, em um raro caso que não é possível decidir se é o livro ou o filme melhor. Para comemorar os cinquenta anos do lançamento de ‘Laranja Mecânica’ por Antony Burgess, a Editora Aleph publicou uma edição comemorativa com material inédito que inclui caricaturas de Angeli e páginas do original em inglês com correções do autor. 
O grande destaque desta edição continua sendo o texto de Burgess e sua ficção que nos faz refletir sobre a vida real. O texto de Burgess em ‘Laranja Mecânica’ é um desafio ao leitor, o autor cria um vocabulário próprio que deixa o leitor indeciso entre consultar o glossário (escrito e publicado contra a vontade do autor) ou tentar penetrar no texto mesmo desconhecendo a princípio o significado de algumas palavras. A segunda opção é a mais divertida, e permite ao leitor entender o que o autor quis dizer em frases como “Ela itiou pra fora dali e me deixou odinoki, e agora eu podia videar que estava em um quarto malenk só meu (p. 249).
Outra grande atração é as reflexões que o enredo nos traz. Primeira a violência gratuita de uma sociedade de consumo, depois o condicionamento que muitos psicólogos defendem até hoje como alternativa educacional e o que ela causaria se levada ao extremo como no livro. Outra grande crítica é a ambição de muitos políticos acima de qualquer escrúpulo e ainda como mesmo rebeldes se entregam a vida burguesa na maturidade. Sem dúvida, o enredo de Burgess é uma provocação que muitos de nós sentimos cair pesado.
Seja por ter inspirado um dos maiores filmes já feitos, seja pelo texto originalíssimo de Burgess, seja pelo enredo provocativo, seja pela edição especial de 50 anos, ‘Laranja Mecânica’ é um livro para ser lido.

Classificação pessoal e arbitrária: cinco estrelas.

8 de jul. de 2013

“O Cemitério” de Stephen King. Objetiva (2011), 613 páginas


Stephen King é sem dúvida um dos mais famosos escritores de mistério e terror da atualidade. Entre seus livros estão clássicos que também se transformaram em filmes clássicos, como ‘O iluminado’ e “A espera de um milagre. Recentemente, a revista Mundo Estranho os dez melhores livro de terror de todos os tempos e colocou “O Cemitério” como em segundo lugar na lista. O livro inspirou o filme ‘Cemitério Maldito’ de 1989.
O livro conta a história de um médico de Chicago que aceita uma proposta para trabalhar como responsável pela equipe de socorro de uma universidade no estado do Maine. Ele e a esposa compram uma casa à beira de uma auto-estrada e se mudam com os dois filhos pequenos e o gato – que se torna personagem central da história.
Quando o gato morre durante uma viagem da esposa com os filhos para a casa dos sogros, o médico é apresentado a uma opção por seu vizinho, a de ressuscitar o gato enterrando-o em um antigo cemitério indígena no meio da floresta que tem este poder. O gato volta a vida e a família nem fica sabendo do ocorrido. As coisas pioram quando o caçula morre atropelado na auto-estrada, e o nem mesmo Stephen King consegue esconder o que o pai irá fazer.
O livro é bem interessante, em alguns momentos o leitor fica com receio de continuar a leitura para não saber o que vai acontecer e o enredo e a narrativa são muito envolventes. Porém, o final não está no mesmo nível das primeiras duas partes do livro. Nas últimas cinquenta páginas parece que estamos vendo um filme de ‘Chuck – o boneco assassino’ e ainda o final é pouco inspirado. O livro é divertido, mas comparado com outros do próprio King, pode-se dizer que não está no mesmo nível.

Classificação pessoal e arbitrária: três estrelas e meia.

3 de jun. de 2013

“Os Bórgias – a história da primeira grande família do crime” de Mario Puzo. Record (2012), 419 páginas.



Mario Puzo é muito conhecido como autor do livro que deu origem a trilogia do cinema ‘O poderão chefão’, mas ‘os Bórgias’ consegue ser ainda melhor. O livro conta a história da família do cardeal Rodrigo Bórgia que se tornaria o papa Alexandre VI durante o século XV. O romance entra no obscuro mundo da cúria romana e desmistifica a figura de cardeais e papas, mostrando-os com os maiores pecados que condenam publicamente.
                Apesar do papa Alexandre ser o mais poderoso dos Bórgias, o romance não gira em torno apenas dele, como co-protagonista está seu filho César, que chegou a ser nomeado cardeal e renunciou ao cargo para se tornar chefe militar do exército papal. O grande destaque é como a ambição sem limite leva a cúria romana a patrocinar desde assassinatos, casamento de fachada entre filhos de cardeais (que deveriam ser celibatários) e ainda mais chocante, a promover verdadeiras orgias e incentivar incestos dentro dos muros do Vaticano.
                Mais o romance não é só isto, é também uma viagem pelo Europa pré-renascentista, que fervilhava com nomes como Michelangelo, Maquiavel (que escreveu ‘O Príncipe’ para César Bórgia) entre outros. Mas também como o crime já era organizado no século XV, estupros, conspirações e acordos militares permeiam todo o romance de Puzo.
                Enfim, um livro imperdível para quem quer conhecer um pouco das entranhas de como a Igreja Católica foi construída, de como o crime organizado é antigo e da Itália pré-renacentista.

Classificação pessoal e arbitrária: cinco estrelas

28 de fev. de 2013

“O livro do Boni” de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho. Casa da Palavra (2011), 459 páginas.



O livro é uma autobiografia da obra do, considerado por muitos, maior executivo que a televisão brasileira já teve e que é atribuída a qualidade apregoada aos programas produzidos no Brasil, o Boni. A primeira boa impressão que causa é que o livro é escrito pelo próprio biografado e a qualidade do texto é enorme. Mas este detalhe está longe de ser o melhor atrativo do livro, trata-se não de um registro da história da televisão brasileira nos últimos cinquenta anos, mas um registro da história do país neste período narrado por um de seus maiores protagonistas.
A grande curiosidade que leva ao livro é entender como a Rede Globo se tornou tão grande que se constitui quase como o quarto poder em nosso país, como ela deixou a concorrência tanto para trás e como se mantém no topo a tanto tempo: todas as respostas são largamente discutidas por Boni em seu livro. Outro grande destaque é que o autor não tem pudor em revelar detalhes de bastidores, como o de enfraquecer concorrentes que ameaçavam a liderança da Globo com artimanhas e as brigas internas dentro da Globo que quase o levaram para a Bandeirantes com toda a sua equipe (teria a Band se tornado um concorrente da Globo se o seu proprietário tivesse aceitado a proposta de Boni?).
A prosa de Boni é uma delícia, leva os leitores a risos e gargalhadas com as histórias de bastidores, que tem entre seus protagonistas, pessoas tão distintas como Dercy Gonçalves e Hans Donner. São vários capítulos, começam com muito pouco da vida pessoal do biografado e indo direto para sua carreira que começou no rádio, passou por anos na publicidade até chegar ao cargo de executivo de televisão em emissoras sem recursos e que não tiveram sucesso de audiência. Segue com as histórias dos primeiros anos da televisão no Brasil, suas grandes primeiras emissores, a forte concorrência entre elas no início.
Um destaque a parte é como Boni transformou o Brasil no país das novelas de qualidade, começando com a compra dos direitos de ‘Direito de nascer’ para a TV Rio. Conta como foi sua frustrada tentativa de implantar o Telecentro para a TV Tupi e sua chegada em fevereiro de 1967 a Globo. Outro ponto que se destaca é que além de se preocupar com a qualidade de conteúdo, Boni se preocupava com o modelo do negócio televisão, sempre se preocupando em ser um negócio lucrativo e sustentável. A vários capítulos com histórias de bastidores de personagens marcantes da televisão brasileira como Chacrinha, Janete Clair, Regina Duarte, Chico Anysio e Roberto Carlos.
Detalhes dos incêndios as emissoras de televisão, sobre a censura que atingiu novelas que se tornariam ícones como Roque Santeiro, os festivais e o nascimento do carnaval Globeleza são pontos discutidos em capítulos que esclarecem várias dúvidas dos leitores. Boni conta como implantou a televisão em rede no Brasil inspirado no modelo americano e que a grade de programação não fora invenção dele mas já era usual destes os rádio da década de 1940.
Talvez a maior polêmica envolva o Jornal Nacional, desde sua criação até os episódios da censura ao movimento da Diretas Já e o edição completamente a favor de Collor contra Lula em 1989. Boni não tem puder de tocar nestes assuntos, esclarece que se tratou de um ordem direta de Roberto Marinho para editar o debate e que ele ficou satisfeito com o resultado e que a edição precipitou a saída de Armando Nogueira da Rede Globo.
O livro acaba com a saída de Boni da direção da Globo por não se sentir a vontade com a direção da nova geração dos marinho, seu ‘exílio’ TV Vaguarda no interior de São Paulo e o futuro da tv aberta no Brasil. Um livro sem dúvida imperdível para entender melhor o Brasil da segunda metade do século XX.
Classificação pessoal e arbitrária: cinco estrelas

9 de fev. de 2013

Bonito, MS. Nome ou adjetivo?


Bonito fica a pouco mais de 300 km da capital do estado do Mato Grosso do Sul, Campo Grande. Apesar de a cidade ter aeroporto, os vôos são poucos e caros, se mostrando a melhor opção ir de avião até Campo Grande e alugar um carro, até porque na cidade os deslocamentos são grandes e um automóvel é de grande valia
Para aproveitar bem a cidade entre sete e dez dias são o ideal, além de algum dinheiro porque não existem atrações gratuitas e a comida e serviços são dos mais caros do Brasil. A cidade em si não é muito atrativa, pode ser resumida a rua principal onde está a praça da cidade com dois dourados enormes bem no meio. Apesar de contar com vários restaurantes, quase todos são muito caros e há apenas um com buffet por quilo, mas é de comida mineira. Uma refeição para casal gira em torno de R$ 50,00. Há opções mais baratas como cachorros quentes e lanches, mas dentre estas opções destacam-se pratos difíceis de encontrar em outros locais como: X-Jacaré, pastel de jacaré e de pintado e sorvete assado. Para os passeios é preciso contratá-los com antecedência em uma das muitas agências que vendem passeios, girando em torno de R$ 50 e R$ 200 por pessoa. A dica é ir de carro, porque o serviço de translado oferecido é caro.

Um dos passeios imperdíveis são as flutuações em rios, entre eles os que mais se destacam é o do Rio Sucuri e do Rio da Prata. O Rio Sucuri fica dentro de um fazendo particular, os visitantes são levados até a sede da fazenda onde são fornecidos os equipamentos de mergulhos e de lá são levado de carro até a nascente do rio. Após um período de adaptação, é só deixar a correnteza levar e curtir o passeio de quase uma hora rio abaixo na companhia de vários peixes. Uma experiência imperdível, principalmente se levar uma câmera subaquática, muitas lojas na cidade alugam pelo preço entre R$ 30 e R$ 40.

Na cidade vizinha de Bodoquena, distante cerca de 55 km do centro de Bonito, fica uma das atrações mais interessantes da região, a Boca da Onça. O receptivo do local já é um espetáculo com piscinas com peixes e uma vista de tirar o fôlego. De lá, o grupo segue de carro com o guia até o início da trilha que dura cerca de 5 h pela serra da Bodoquena e passas pelas mais lindas cachoeiras que eu já vi, entre elas se destaca o Buraco do Macaco. Para finalizar, uma escada de quase 900 degraus serra acima até a plataforma de rapel que já intimida só de olhar para baixo. Quando de volta a sede, um almoço simples, mas delicioso aguardam os visitantes.

As grutas são outra atração imperdível que podem ser visitadas no mesmo período, elas ficam cerca de 22 km do centro de Bonito. É difícil saber qual é mais bonita, a do Lago Azul ou de São Miguel, as duas são diferentes e espetaculares. A do Lago Azul exige um pouco de preparo e cuidado, pois uma escada esculpida na pedra de cerca de 300 leva a gruta, mas quando se chega lá embaixo a vista é tão espetacular que o detalhe da escada é logo esquecido. Para visitar a Gruta de São Miguel é necessário fazer uma trilha por meio do cerrado, em parte por uma ponte suspensa na mata. O local é lindo, e parece saído de algum filme de ficção científica.

Outro atrativo fantástico da cidade é o Rio Formoso. Nele pode-se em um período fazer passeio de bote descendo várias de suas cachoeiras. Mas sem dúvida, o grande passeio do rio é o mergulho que dura cerca de uma hora e chega a sete metros de profundidade. Como a água é muito clara, a companhia dos peixes é uma constante, além da oportunidade de ver uma das cachoeiras de outro ângulo.


Apesar de Bonito ter grandes atrações, devido a grande proximidade do Pantanal (160 km) uma visita a uma das muitas fazendas dentro do Pantanal que recebem turistas é uma grande pedida. Uma delas que recebe turistas para passar o dia é a Fazenda San Francisco. Um safári pela manhã que inclui uma trilha é uma oportunidade de ver jacarés, aves e muitas capivaras e canais carregados de piranhas. Após o almoço pantaneiro, onde se destaca o melhor doce de leite que já comi que é feito com leite de búfala, uma passeio de chalana é feito a tarde onde há paradas para pescar piranha, alimentar pássaros e jacarés com elas. Ao voltar a sede, uma café espera os visitantes incluindo o famoso caldo de piranha. O visitante ainda tem a disposição as piscinas da fazendo e pode observar pássaros como as araras e tucanos. Um dia que é inesquecível.

Bonito é demais! Tem atrações muito diferentes entre si e todas fantásticas. Uma cidade que merece ser visitada, seja pelas aventuras, vistas ou passeios. Apesar de ser cara e a estrada que liga Campo Grande a ela ser movimentada e perigosa, tudo se justifica por seus paraísos.

Classificação pessoal e arbitrária: cinco estrelas

16 de jan. de 2013

“Nunca fui santo – o livro oficial do Marcos” de Mauro Beting. Universo dos Livros (2012), 167 páginas.



Apesar de o livro ser uma proposta de autobiografia do goleiro que só jogou pelo Palmeiras e algumas partidas pela seleção, o livro é muito mais que isto. Ele não agrada só aos torcedores do Palmeiras, e menos ainda só a fãs de futebol. O livro é uma história de vida de um homem que, antes de mais nada, é determinado e fiel a suas convicções. Tão fiel que por diversas vezes foi incompreendido por suas atitudes. Agrada a todos que gostam de boas histórias, que tanto podem levar neste livro as lágrimas como as gargalhadas.
O principal destaque do livro é a sinceridade de Marcos, por diversas vezes ele admite que não se entregava tanto quando a situação no jogo estava feia (como na famosa goleada para o Vitória em 2003). Outros quando admite que em grandes defesas teve boa parcela de sorte ao fazê-las, ao admitir que não sabe como as fez, ou ainda quando fala que tentou resfriar o então titular Velloso colocando o ar condicionado no máximo para garantir uma chance.
O livro começa com o prefácio do autor Mauro Beting com um depoimento emocionante que é capaz de levar as lágrimas os leitores mais emotivos. O livro continua com Marcos contando sua história em primeira pessoa, desde a cidade de Oriente, no interior paulista. Conta sua passagem pela categoria de base do Corinthians, que rende histórias ótimas como a de que Marcos demorou a ir em Shopping na capital porque achava que tinha que pagar para entrar.
A partir da chegada no Palmeiras, o goleiro descreve a vitória na Copa do Brasil de 1998, mas principalmente a vitória na Libertadores de 1999 e a disputa do mundial de clubes do mesmo ano, sempre com o recheio de histórias ótimas. Como quando o lateral Júnior acorda os companheiros no Japão porque não conseguia dormir pensado nos cruzamentos do inglês Beckham. Na Libertadores de 2000, narra como foi o episódio que todo palmeirense ama lembrar que é o pênalti de Marcelinho defendido por Marcos na semifinal.
A copa de 2002 é um deleite para todo torcedor brasileiro. Conhecer os detalhes da campanha vitoriosa já é muito divertido, ainda mais que Marcos não tem pudor de contar todos os detalhes dos companheiros. O que mais se destaca é a embriaguez que o volante Vampeta estava quando deu a famoso cambalhota na rampa do Palácio do Planalto, Marcos diz que não sabe como ele se levantou depois!
O livro continua com os motivos pelo qual o goleiro recusou a proposta do Arsenal para disputar a Série B em 2003 e mostra todo seu carinho e reconhecimentos aos seus treinadores de goleiros, como Carlos Pracidelli e Valdir de Morais. Aos companheiros, como o goleiro Sérgio que respondia da típica maneira de interior as provocações dos adversários. Mas as histórias em si não são o mais interessante do livro, o mais interessante é a vida e como ela é contada por seu protagonista, Marcos. O texto de Mauro Beting é sempre perfeito e emotivo, os dois nos brindam com um livro que vai muito além de um livro de um jogador de futebol.

Classificação pessoal e arbitrária: quatro estrelas e meia.

12 de dez. de 2012

Brasília – Patrimônio Mundial


Apesar de alguns estrangeiros acharem que a capital do Brasil é Buenos Aires, todos nós sabemos que desde 1960 Brasília é a nossa terceira capital federal. Apenas isto já bastaria para justificar uma visita, mas quando se conhece a cidade percebe-se que o poder federal é apenas um detalhe. Brasília é um museu a céu aberto, encanta e surpreende, sua arquitetura é estupenda, e não se limita as obras de Niemeyer, suas avenidas largas e a organização de uma cidade de dois milhões de habitantes são notórias, tudo isto impressiona.
E o melhor de tudo é que todas as grandes atrações da cidade estão no eixo monumental (conhecido popularmente como eixão) e não estão distantes mais que quatro quilômetros. Do Memorial JK ao Panteão da República há uma série de atrações que por si só já valeriam a visita, todas reunidas em um espaço curto é um deleite ao visitante.

O Memorial JK é uma atração imperdível. Conta a história da fundação da cidade e de seu fundador. Lá existem fotos raras, documentos históricos (como a carteira de motorista e identidade de Jucelino), várias vestimentas que incluem a da posse usada pelo presidente e a primeira-dama Sarah. A biblioteca pessoal de JK foi toda transportada tal qual era no seu apartamento no Rio de Janeiro. O último carro particular pertencente ao presidente está no estacionamento e a grande atração é o mausoléu onde repousam os restos mortais de Jucelino. A única ressalva é que o Memorial é uma das poucas atrações que cobram a entrada, R$ 10,00.

Em frente ao Memorial JK está o Memorial dos povos indígenas que já vale pela sua arquitetura. Pouco mais a frente estão o Palácio Buriti, sede do governo distrital e o lindo Parque da Cidade Sarah Kubitschek. Na mesma área estão o autódromo Nelson Piquet, o ginásio Nilson Nelson e a grande atração do complexo esportivo, o Estádio Nacional de Brasília (em fase final de construção) que será palco da abertura da Copa das Confederações em 2013. Em frente ao estádio está a Torre da TV que permite uma visão de 360° da cidade e que dá um vista de cartão postal do eixão.


Pouco a frente estão a Biblioteca Nacional de Brasília, o Teatro Nacional e o Museu Nacional. Dentre estas três atrações vale a visita ao Museu Nacional. Não importa o que a exposição que esteja sendo exposta, o museu é a atração. Esta é a última obra de Niemeyer na cidade e parece que ele estava inspirado, tanto na parte externa como na interna o museu é único, tão particular como simples, tão sereno como espetacular, nos desafia a descrevê-lo por não ter condições de ser justo a sua grandeza.
Ao lado do Museu Nacional está a não menos espetacular Catedral Metropolitana que está reaberta depois da reforma. E após a catedral se estenda a esplanada dos ministérios até o Palácio Itamaraty e da Justiça, obras lindas que são características de Brasília.
Finalmente se chega ao prédio mais imponente de toda a cidade, o Congresso Nacional. Projetado com maestria por Niemeyer, esta era sua obra favorita. É único por abrigar no mesmo local as duas casas legislativas, a Câmara e o Senado. Só sabemos que estamos entrando em uma casa e saindo da outra pela cor do tapete, azul para o senado e verde para a Câmara. Na entrada existe o Museu do Senado que apesar de pequeno conta um pouco da história da casa e ainda podemos enviar postais por conta do Senado. Existem as visitas guiadas diárias que são gratuitas e duram cerca de uma hora. Os visitantes podem ir até os halls com grandes obras de arte para serem apreciadas e os plenários que são tão conhecidos dos noticiários.

Após o Congresso está a Praça dos Três Poderes, que é composta não só pelo próprio Congresso (pode legislativo), pelo Supremo Tribunal Federal (judiciário) e pelo Palácio do Planalto (executivo). O Palácio do Planalto só pode ser visitado aos domingos e não há visitas ao STF. Mas a praça dos três poderes não se limita as três casas, lá também estão o Panteão da República e bem ao centro da praça está o Museu da Cidade que conta como foram as diversas manifestações desde José Bonifácio até finalmente a sua fundação de 1960.

Enfim, não é a toa que a cidade é Patrimônio Mundial. Todos nós brasileiros temos que nos orgulhar de nossa capital. Erguida pelo povo brasileiro em meio ao cerrado, parece simbolizar toda a capacidade de nossa gente de criar do nada e em condições adversas uma obra monumental que merece ser reverenciada.

Classificação pessoal e arbitrária: cinco estrelas

25 de nov. de 2012

“Paris é uma festa” de Ernest Hemingway. Bertrand Brasil (2012), 236 página.



É impossível não sentir atração pela Paris de Hemingway. Neste livro ele descreve a capital francesa no período entre as guerras mundiais. Nesta época a cidade era o lar de grandes escritores e artistas das mais diversas áreas que ainda aguardavam pelo reconhecimento que viria nas décadas seguintes.
                A narrativa é tão fantástica que nos faz sentir como parte da família Hemingway, amigos do autor, frequentando juntos os cafés e até sentindo fome junto com ele quando o dinheiro estava curto. Enfim, a Paris de Hemingway é tão irresistível quanto a literatura de seu autor.
                O livro inicia com uma visita do autor ao que ele chama de ‘um bom café’ na Place Saint-Michel onde ele se dedicava a escrever seus contos que viriam a ser dos mais cultuados de toda literatura mundial. Passa por sua relação com a agitadora cultura Miss Stein que o recebia de braços abertos em seu apartamento que tinha entre os fraquentadores assíduos figuras como Picasso. Mais tarde, Hemingway conta como a sua relação com Stein teve um fim por um dos muitos males entendidos da vida. Uma das frases mais conhecidas de Miss Stein é, sem dúvida, a que classificação a geração de escritores americanos que vivia em Paris na década de 1920 de geração perdida, frase a qual é dedicada todo um capítulo no livro.
                E capítulo após capítulo somos levados a livrarias, como Shakespeare and Company onde Hemingway alugava livros que nunca pagava os aluguéis, as corridas de cavalos onde por vezes ele ganhava um bom dinheiro, e como também se viciou nas apostas tanto que teve que abandonar o hobby pois estava lhe tomando o tempo da literatura. O ambiente, frequentadores, pratos e bebidas e até os garçons dos cafés, que hoje são pontos turísticos obrigatórios, como o Lipp, Dingo e Lilas, são outros locais que já nos sentimos a vontade ao fim do livro.
                Mas sem dúvida, a maior atração é a relação íntima entre Hemingway e Fitzgerald. Entre outras intimidades que o autor nos conta, como se fossemos amigos de longa data, que Fitzgerald casara-se virgem e tinha muitas preocupações com o tamanho de seu órgão masculino.
                Sem dúvida, o livro é uma fotografia da Paris dos anos 1920 das mais incríveis. Conhecer Paris todos podemos, mas uma cidade onde conviviam com intimidades algum dos maiores escritores e artistas do século XX, e ainda nos sentirmos parte da turma, só no livro de Hemingway.

                Classificação pessoal e arbitrária: cinco estrelas

8 de nov. de 2012

“Fundação” de Isaac Asimov. Aleph (2009), 239 páginas.


Primeiro livro da trilogia da série que ganhou o prêmio de melhor de ficção científica e fantasia de todos os tempos, batendo livros como ‘O senhor dos anéis’, Assimov mostra porque a série é cultuada por fãs de literatura fantástica. Foi inicialmente publicado na década de 1950, como os dois outros livros da série.
Tudo começa quando um grande matemático Hari Seldon desenvolve uma área chamada psico-história. Esta área consegue prever o comportamento humano de grandes massas, ou seja, o transcorrer da história. Neste primeiro livro, que passa vários séculos no futuro onde nosso presente é apenas uma vaga lembrança, Seldon prevê que a queda do Império Galáctico é inevitável. Seguir-se-ão trinta milênios de escuridão até que ressurja um segundo império para que a luz da ciência e do conhecimento volte a brilhar na galáxia.
Porém, não há o que se possa fazer para evitar a queda do Império, mas Seldon pode tomar providências para que a escuridão cultural na galáxia dure apenas um milênio. Para tanto, ele reúne um grande número de cientista que se asila em um planeta na periferia da galáxia, que fora especialmente escolhido por Seldon. Este grande número de cientista teria a responsabilidade de criar uma grande enciclopédia do conhecimento humano para que ele não se perdesse no período das trevas.
Mas Seldon previra muito mais que havia declarado aos cientistas que embarcaram na aventura com ele. Não contou que haveria grandes crises entre governo de pequenos reinos da periferia galáxia onde o velho Império não tem mais força. Nestas crises a Fundação, como fora batizada a colônia no novo planeta, estaria envolvida e correria o risco de ser aniquilada. Tais crises entrariam para a história como crises Seldon, e no primeiro livro ocorrem duas.
Para resolver a primeira crise, Salvor Hardin, usa-se do fato que apenas a fundação usa energia nuclear frente a vizinhos que voltaram a usar combustíveis fósseis. Ele espalha a influência da Fundação com a distribuição deste tipo de tecnologia junto com uma nova religião – a Fundação torna-se o centro religioso dos reinos da região. A segunda, liderada por Hober Mallow, a fundação já se tornara uma potência econômica com a comercialização dos artefatos nucleares, mesmo sendo fraca militarmente. Mallow usa a estratégia de guerra econômica para derrotar os inimigos que ameaçam a Fundação sem disparar um único tiro.
Sem dúvida, o livro de Assimov nos mostra mais sobre o nosso mundo que propriamente um mundo futuro. Mostra como a religião é usada ao longo da história como elemento de dominação e como o poder econômico é uma das mais importantes variáveis na política. Além disto, nos mostra como é a expansão imperialista, um paralelo com os Estados Unidos é inevitável, por meio de imposição econômica e militar.
Outro detalhe vai saltar aos olhos dos fãs de Guerra nas Estrelas, muito da história original da saga de George Lucas está nesta trilogia de Assimov. Outro detalhe é como a tecnologia foi superada e muito, o livro que se passa em um futuro supertecnológico, os habitantes ainda leriam jornais em papel e usariam telefone fixos, dentre muitas outras tecnologias já superadas.
Este primeiro livro da trilogia já vale a pena pelos outros dois.

Classificação pessoal e arbitrária: cinco estrelas

“Fundação e Império” de Isaac Asimov. Aleph (2009), 244 páginas


Neste segundo livro da série, Assimov nos leva a batalha entre a Fundação e o que restou do grande império que ainda tem uma sobrevida no interior galáctico. Depois de duzentos anos da Fundação ela se tornara o Estado mais poderoso da Galáxia, mas o antigo Império ainda controlava três quartos de todos os humanos e de sua riqueza. O General Bel Riose resolve então se lançar em uma guerra contra a Fundação, que como previra o Plano Seldon, marcaria a derrocada final do grande Império.
                O que o Plano Seldon não podia prever era o influencia de um único indivíduo na História, pois sua psico-história tratava apenas da previsão de comportamento de milhões de pessoas. Eis que todo o planejamento traçado pelo grande cientista entra em xeque quando um mutante surge com grandes poderes mentais com acunha de Mulo. Utilizando seus poderes consegue dominar grande parte da galáxia e derrota inclusive a Fundação com facilidade.
                Porém existe uma grande sombra nas conquistas do Mulo: a Segunda Fundação. Quando Seldon traçou seu plano, ele declarara que iria fundar duas colônias em lados opostos da Galáxia. A primeira Fundação todos conheciam e agora estava subjugada ao Mulo, porém a Segunda não era conhecida e sua existência era até posta em dúvida, mas não pelo Mulo que a procurava freneticamente.
                Esta segunda Fundação seria diferente da primeira. Enquanto a conhecida fora planejada por Seldon como sendo um baluarte da tecnologia do grande Império, a segunda fora planejada para manter o conhecimento sobre o domínio mental dos seres humanos, seria a fundação dos cientistas da mente humana. Estes cientistas poderiam ter técnicas de controle mental que os cientistas tecnológicos da primeira Fundação nem sonhavam.
                Esta busca do Mulo pela segunda Fundação nos leva a um suspense de ficção científica que não existe no primeiro livro. A grande revelação, no entanto, apesar de ser um pouco previsível não deixa o livro entediante e mantém o leitor atento e tenso o tempo todo.
                Este segundo volume da trilogia é tão bom quanto o primeiro, e ao ler sabemos por que a série foi escolhida como a melhor de ficção cientifica e fantasia de todos os tempos.
Classificação pessoal e arbitrária: cinco estrelas.

“Segunda Fundação” de Isaac Asimov. Aleph (2009), 235 páginas.


Último volume, fecha com chave de ouro o que foi considerada a melhor trilogia de ficção científica e fantasia de todos os tempos.
                A primeira parte do livro é a continuação da busca do Mulo pela segunda Fundação. Ele não a encontra, mas é encontrada por ela. Os cientistas psicológicos conseguem subjugar o grande poder mutante do Mulo e não permitem que ele vença e acabe de uma vez com o plano Seldon.
                A segunda parte ainda envolve uma busca pela segunda Fundação, mas agora pelos integrantes da primeira. Neste processo, ocorre mais uma guerra onde a primeira Fundação enfrenta um poderoso inimigo que parece ter todas as condições de terminar de vez com o plano Seldon. Porém, apesar de ter todas as tendências contra, a primeira fundação consegue vencer com a presença incerta dos poderosos cientistas psicológicos da segunda.
                O fim da trilogia então se transforma em um suspense sobre a que se presta e onde está a segunda fundação. Pela primeira vez, Assimov usa elementos de suspense de reviravoltas em sua saga e leva o leitor a momentos de tensão.
                Quando finalmente a localização da segunda Fundação é revelada, a sua trama se mostra inteligente e surpreende. Como os cientistas da segunda Fundação recolocaram o Plano Seldon nos rumos também tem a trama muito bem construída por Assimov. Porém, Assimov não esclarece se de fato o planos de Seldon foram postos em prática, ele termina a trilogia quatrocentos anos depois da Fundação, e o plano se transcorreria em mil. Um ótimo final para uma trilogia imperdível para qualquer fã de ficção científica e de boas histórias que envolvam ciência. IMPERDÍVEL.

Classificação pessoal e arbitrária: cinco estrelas

8 de set. de 2012

“Guia politicamente incorreto da Filosofia” de Luiz Felipe Pondé. Leya (2012), 223 páginas.



O livro não é propriamente um livro, e sim uma série de ensaios que tenciona um fio de união que é o que o autor chama de praga do politicamente correto. O livro, no entanto, segue fiel a aos seus dois predecessores da série dos politicamente incorretos, uma defesa da direita conservadora. O autor define o que é politicamente correto de acordo com sua vontade e sem argumentos nenhum, ou muito pouco convincente. Na verdade, o livro é a defesa de uma posição conservadora de sociedade, de posições ultrapassadas como o darwinismo social e tem enormes incoerências, além de ter altas doses de preconceitos contra o islamismo.
Para se ter uma ideia da incoerência, que parece indicar que o autor nem revisou o livro ou a incoerência é mesmo sua marca, na página 108 “Um dos projetos da minha vida é não viajar nunca mais, pelo menos cada vez menos e para menos longe. Exterior nem pensar”. E na página 19, na apresentação do livro “Volto da Islândia, um país maravilhoso”, será que a Islândia fica no estado de São Paulo?. Esta é apenas uma das muitas incoerências do livro. Em especial, este capítulo sobre viagens, o motivo para alegar que não suporta viajar é porque muita gente viaja, hoje em dia. Viajar deixou de ser um privilégio, então melhor não viajar. Nesta linha de pensamento, chegaria a posição da extrema direita, que a culpa do trânsito é a compra de automóveis mais acessível, então, para a direita, melhor dificultar a aquisição de carros.
Ainda na incoerência, define o que politicamente correto de acordo com as posições que quer atacar. Por exemplo, quer atacar o islamismo, então define que o politicamente correto é defender o islamismo. Nada mais errado, basta ver televisão para ver que o islã não tem nada de politicamente correto, que mais seria a defesa dos judeus, que em nenhum momento são alvo do autor.
Usa Darwin para defender que o mais apto deve sobreviver, socialmente, o chamado darwinismo social que está superado a muito tempo. E continua em suas incoerências. A mais grave, no entanto, mais como bom direitista conservador, é a defesa da ditadura militar no Brasil que defendeu os privilégios que pouco a pouco estão cedendo lugar à distribuição de renda e ascensão social em nosso país. Na página 179 “A ditadura, de certa forma, nos salvou do pior”. Mas esta defesa da ditadura militar não é novidades na série ‘Guia politicamente incorreto’, nos outros dois livros já havia sido defendida.
Então o livro é muito ruim, não só pela defesa de um conservador que não aceita a ascensão social de pessoas que considera menores e que deveriam apenas trabalhar para manter o privilégio das elites, da quais se considera parte. Mas também porque as posições e defesas que faz são incoerentes ao longo do livro, e uma pessoa que não consegue ser coerência nem mesmo com as ideias que defende em um livro de menos de 250 páginas não pode ser levado a sério.

Classificação pessoal e arbitrária: duas estrelas e meia.

24 de ago. de 2012

“Guia politicamente incorreto da América Latina” de Leandro Narloch e Duda Teixeira. Leya (2011), 311 páginas



Assim como o original “Guia politicamente incorreto da história do Brasil”, este segundo livro da série também é uma reportagem de VEJA, feita por dois jornalistas que se formaram na escola da revista que tem entre suas fontes gente como Carlinhos Cachoeira. As fontes do livro em questão são tão confiáveis como o famoso bicheiro de Goiás.
Os autores, como de costume em VEJA, não se preocupam em mostrar os dois lados e sustentam suas posições em argumentos facilmente refutados. Neste livro, os dois jornalistas de VEJA tratam das figuras mais famosas da América Latina, como Che Guevara, Simón Bolívar, os Peróns, Pancho Villa e Salvador Allende. A idéia do livro em si é feliz, a de mostrar que estas figuras da história latino-americana não foram heróis abnegados que dedicaram sua vida a uma grande causa. Mas pior que mostrá-los desta forma, é contrário, usar fontes pouco confiáveis para tentar diminuir a importância histórica deles.
No capítulo de Che, os autores narram vários episódios que têm como fonte pessoas contrárias ao regime dos castros em Cuba. Estes relatos são tratados como verdades incontestes e narrados como fatos devidamente apurados historicamente. Não é diferente nos capítulos seguintes. Como quando afirma que Pancho Villa adorava os Estados Unidos tendo como única fonte para afirmar isto uma entrevista, reproduzida no livro, em que Pancho dá declarações políticas e que em nenhum momento diz o que os autores afirmam que ele disse, típica manipulação da escola de VEJA.
Mas o pior fica para o final, na defesa velada do golpe militar do Chile dado por Pinochet. Um leitor desinformado pode ser levado a crer que a única saída para o Chile era destituir um governo democraticamente eleito porque tinha posições de esquerda que iam contra os interesses dos capitalistas, interesses estes defendidos com afinco até hoje por VEJA.
Enfim, o livro tem uma proposta que seria muito mais bem explorada por escritores que tivessem um pouco mais de bom senso, mais interesse em discutir episódios históricos, de mostrar os dois lados e não por dois jornalistas que usam o livro mais para defender sua posição ideológica e sem compromisso em informar e apurar os fatos. Ideia boa, mas muito mal executada pelos autores. Suas posições de direita reacionária causam tanto mal estar para eles próprios, que assumem que ser de direita é politicamente incorreto.

Classificação pessoal e arbitrária: duas estrelas e meia

21 de ago. de 2012

São Luiz do Maranhão.


São Luiz é a capital de estado do nordeste mais próximo do Pará, já as margens da Amazônia. Fundado em 1612 pelos franceses completa seu quarto centenário neste ano de 2012, foi também invadida pelos holandeses, mas finalmente colonizada por portugueses. A cidade é linda, apesar de ser extremamente mal cuidada. Outro ponto que se destaca desde o início é o clima quente e extremamente úmido, fazendo-nos sentir dentro de uma sauna mesmo nos meses de junho e julho.
A maior atração é sem dúvida o centro histórico, com a sua arquitetura que marca a colonização portuguesa. Os sobrados com seus azulejos e varandas nos leva a tempos em que a cidade era apenas parte do império português. Apesar de lindo, o centro histórico é muito mal cuidado, a maioria dos casarões centenários estão abandonados e outro muitos em estado precário. A boa notícia é que a situação já esteve pior, está em pleno andamento o projeto de revitalização do centro histórico. O lugar é tão lindo que não pertence só aos maranhenses, mas a toda a humanidade.

É uma pena que em termos de museus não há muito que visitar no centro. Que cabe registro são dois, mas nenhum com destaque; o Museu Histórico e Artístico do Maranhão e o Museu de Arte Sacra.
Outro local no centro que vale visitar é a Praça Pedro II. Lá se encontra a Catedral de Nossa Senhora da Vitória e o Palácio dos Leões, sede do governo estadual. São dois prédios muito bonitos, mas que têm outros parecidos ou ainda mais bonitos em vários capitais. Outro destaque cabe ao Teatro Arthur Azevedo e o Mercado da Praia Grande, que ficam devendo muito a outros teatros e mercados públicos, mesmo em relação a outros cidades do Nordeste.


A natureza foi generosa com a capital maranhense, apesar de até isto os seus habitantes não conservarem. Não há praias em condições de banho na cidade devido a não existência de sistema de esgoto satisfatório. Mesmo assim, vale a visita a praia do Calhau que tem vários restaurantes um ao lado do outro que servem uma enormidade de frutos do mar, como caranguejos e siris.

Outro destaque natural da cidade é a sua maré. No porto de onde saem as lanchas e barcos para Alcântara muda como em nenhum outro local que conheço. Quando estive na cidade, de manhã o porto estava cheio de água, com profundidade tal que podem navegar barcos grandes. Pouco mais de seis horas depois, não só o porto está seco como o mar recuou quilômetros. É um espetáculo interessante.

A capital maranhense é linda, com uma natureza exuberante e uma arquitetura fantástica. Mas falta-lhe conservação, museus e um sistema de esgoto que permite aos turistas se banhar nas suas lindas praias. Além de um aeroporto decente e um sistema de transporte coletivo mais eficiente.

21 de jul. de 2012

“O Último Papa” de Luís Miguel Rocha. Ediouro (2008), 395 páginas.


A ideia parece irresistível, utilizar todas as teorias de conspiração que envolve a morte do papa João Paulo I para criar um romance ao estilo Dan Brown: sociedades secretas, heroína bonita, herói protetor da verdade. Como vilões donos de altos cargos na Igreja Católica e homens poderosos da economia e política mundial. Porém o romance de Luís Miguel Rocha fica muito aquém de outros do estilo, muito abaixo dos de Dan Brown, bem como de Steve Berry.
A trama é confusa e apesar de ter uma grande ideia inicial, o argumento é uma lista de pouca importância e que deixa o enredo longe do charme de outros; de que tudo que está escrito poderia ser verdade. Apesar de misturar personagens reais com outros da ficção, em nenhum momento o ocorrido em 1978 está totalmente inserido na história do livro. O romance poderia ter qualquer outro episódio da história, pois a influência dos fatos com o papa João Paulo I parecem não são muitas na tal lista que uma sociedade secreta não quer que se publique sobre os seus membros. Para cumprir o enredo deste tipo de livro, o autor inclui códigos secretos que não tem relevância nenhuma para a história e enigmas sem nenhuma graça.
Enfim, o livro tem um grande apelo, mas seu desenvolvimento é pouco atrativo e tem pouca conexão com o argumento inicial. História cheia de retalhos, confusa e com pouco realismo. Final muito chato e forçado. Faltou ler mais Brown e Barry a Rocha.

Classificação pessoal e arbitrária: duas estrelas

4 de jul. de 2012

Nova Bassano e Veranópolis, RS.


A serra gaúcha tem seus encantos que são proclamados por todo Brasil. Existem as cidades em que as visitas são obrigatórias, como Gramado, Canela, Caxias do Sul e Bento Gonçalves. Porém os encantos da serra gaúcha também estão quase escondidos em cidades bem pequenas, como Nova Bassano e Veranópolis.
Para se chegar a Nova Bassano é necessário seguir reto por Bento Gonçalves, Veranópolis, Nova Prata e finalmente se chega à cidade. Quando se chega encontra-se uma cidade muito bem cuidada, que parece não ter nada fora do lugar e com colonização tipicamente italiana. Estão lá todas as características deste tipo de imigração, o sotaque forte e o jeito de falar gesticulando e principalmente, a extrema hospitalidade de seu povo. Em poucos lugares pessoas que eram completamente estranhas parecem se transformar em amigos de toda uma vida em poucas horas, este tipo de recepção é o que espera os visitantes de Nova Bassano.
Outra característica é a culinária. Mas não a sofisticada das grandes capitais, comida de verdades e com porções generosas. Queijo, vinho, salame, pão, cuca e doces, todos coloniais e deliciosos, frescos e feitos a poucos quilômetros e poucas horas. Um deleite que não custa muito a quem está acostumado aos preços das capitais.
Para uma cidade de cerca de dez mil habitantes, a efervescência cultural chama atenção. Ele organizam a quase dez anos uma feira do livro que traz escritores de todo o Brasil e que mobiliza toda a cidade. A cidade conta com centro de eventos e escolas públicas de dar inveja a muitas particulares de outras regiões.
Como a cidade é pequena, não há muita arquitetura a visitar e apreciar. Destacam-se, no entanto, os bonitos prédios da prefeitura e a igreja matriz.

No caminho para o litoral passamos por Veranópolis. A ponte sobre o Rio das Antas já é um atrativo arquitetônico da cidade na divisa com Bento Gonçalves.

Na cidade, de cerca de vinte e cinco mil habitantes e conhecida como a capital da longevidade por ter um das mais altas expectativas de vida do Brasil, também esconde-se encantos que os visitantes mais atentos vão apreciar.
No centro da cidade estão a Casa de Cultura que conta com diversas atrações. Entres elas a o Museu Histórico que conta com trajetória da imigração italiana, o Memorial José Lewgoy que homenageia o famoso ator natural da cidade, a maquete chamada de Vila Ricordi que mostra como era uma colônia típica da serra durante o início da imigração e uma boa coleção de fotografias históricas da cidade e região.
Na praça central é a XV de Novembro, que conta com a igreja matriz e uma paisagismo muito bem cuidado e que vale a pena visitar.

A serra gaúcha é uma boa pedida para um visitante, mesmo que não seja os destino conhecidos de todos. Suas pequenas cidades guardam encantos que um visitante pode apreciar como gente hospitaleira, cidades muito bem cuidados e prezam por sua história e de seus antepassados. Vale a pena, mesmo em cidades muito pequenas, a tal ponto de não terem muitos museus e arquitetura a apreciar.

Classificação pessoal e arbitrária: três estrelas e meia.

20 de jun. de 2012

“Guia politicamente incorreto da história do Brasil” de Leandro Narloch. Leya (2011), 367 páginas.



O livro não é escrito por historiador, mas sim por um jornalista oriundo do grupo Abril que, entre outros cargos, foi repórter da Veja. Isto já dá um indicativo do que se trata o livro, o politicamente incorreto é a postura de assumir a posição de uma direita, que em muitos casos pode até ser classificada como reacionária. É uma defesa da manutenção dos previlegios da elite que sempre mandou no país e desfrutou das benesses que são oriundas da exploração das classes menos favorecidas. Assim como a Veja, o autor parece não se conformar com a distribuição de renda, criação de um grande número de universidades federais e a grande mobilidade social do governo do PT. Entre outros aspectos, o final do livro é uma tentativa de amenizar a ditadura militar e justificar as torturas e mortes que causaram em mais de duas décadas de regime ilegítimo. Tenta apresentar o milagre econômico com uma grande vitória da ditadura, o que convence um leitor mais desavisado, pois não tem uma única linha sobre a moratória que se seguiu, e ainda culpa a inflação pela bagunça que estava a economia do país quando os militares voltaram para o quartel. Para se ter uma ideia do tom do discurso, a última frase do livro é “Viva o Brasil capitalista”. só faltou completar com um viva a economia neoliberal e suas crises financeiras que prejudicam exatamente os que menos tem a ver com elas.
Como bom jornalista da escola da Veja, não se preocupar em contrapor opiniões, se limitando a adotar a posição de um especialista que concorda com seu ponto de vista para justificá-lo como verdade. Usa o depoimento de uma única testemunha como prova inequívoca da verdade absoluta que o autor tenta provar. Manipula dados e tabelas que para um leitor leigo parecem inquestionáveis. Enfim, o livro parece uma reportagem de Veja, e a qualidade das fontes é a mesma: teria Narloch consultado o Carlinhos Cachoeira também?
Apesar do direitismo reacionário do autor, o livro tem muito mérito. A leitura é agradabilíssima. Os textos são claros e serve para contrapor algumas defesas e provocar reflexão sobre diversos pontos.
Discute o papel dos índios no início da colonização que faz qualquer um continuar considerando Iracema e Peri como personagens de literatura. Na questão da escravidão, tenta mostrar, o óbvio, que não foram os portugueses que a inventaram e era mais uma questão social que de etnia, tanto que os negros que acendiam socialmente tinham seus próprios escravos. Traz curiosidades sobre grandes nomes da literatura brasileira pouco divulgadas, como o papel de censor de Machado de Assis e a posição escravocrata de José de Alencar.
Fala sobre o nascimento aristrocata do samba e como ele se incorporou a cultura popular brasileira. Mostra como a justificativa simplória da Guerra do Paraguai não resista a uma análise mais detalhada. Traz dados que mostra que Aleijadinho não pode ter sido autor de todas as obras que lhe atribuem, e ainda, as que com certeza teria sido do artesão que décadas depois de sua morte teria sido chamado de Aleijadinho são de qualidade artística baixa. Fala das polêmicas que envolveram a anexação do Acre. Defende o Império como um regime quase ideal (típico de elitistas). E no final, faz uma defesa do regime militar que justifica o título do livro.
O livro é bem escrito, proporciona uma leitura agradável, traz dados interessantes como a origem das cores verde e amarela da nossa bandeira, mas é escrito por um reacionário que não tem pudor de defender sua posição direitista.

Classificação pessoal e arbitrária: três estrelas e meia. 

16 de jun. de 2012

O Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald. LP&M Editora (2011), 208 páginas


Scott Fitzgerald é considerado um dos maiores escritos americanos do século XX. Sua obra-prima é justamente ‘O grade Gatsby’ onde descreve a vida de excessos e luxo dos ricos da costa leste dos Estados Unidos no início do século XX. Ao ler a obra se entende porque Fitzgerald tem toda a sua fama, e se concorda com ela plenamente.
O narrador é um americano típico do meio-oeste que emigra para Nova York em busca de riqueza ao trabalhar no mercado de ações. Ele aluga uma casa na periferia da cidade, na qual há um vizinho que ostenta festas faraônicas todas as semanas durante o verão. Ele hesita um pouco em comparecer a tais festas, mas acaba cedendo e conhece seu vizinho, o misterioso senhor Gatsby. 
Nasce uma amizade entre os dois, onde o mistério sobre a vida do senhor Gatsby é desvendado aos poucos enquanto ele tenta resgatar algo do passado que ainda o incomoda. O final é trágico e irônico para o personagem do título do livro, tanto da forma como ocorre e o que acontece depois.
Fitzgerald nos brinda com uma narrativa envolvente, cheios de nós que não deixam nenhuma ponta solta no final. Nos leva para a sociedade americana pré-crise de 1929 e joga com relações de ironia e sacarmo com maestria.


Classificação pessoal e arbitrária: cinco estrelas

5 de jun. de 2012

Garanhuns, Pernambuco.



Garanhuns fica no agreste meridional de Pernambuco, a pouco mais de 200 quilômetros da capital do estado, Recife. Para chegar até a cidade é necessário viajar de ônibus cerca de três horas e meia a partir da capital (R$ 45,00) depois de voar de São Paulo por quase três horas até Recife. A cidade é muito conhecida por ter a cidade natal do presidente Lula, porém nada lá lembra o filho famoso. As placas turísticas fazem alusão a acunha de “cidade das flores” outra alusão famosa é de a “suíça pernambucana”, até porque a cidade fica a cerca de mil metros de altitude o que confere um clima bem mais ameno que as outras regiões do estado.
Apesar de não ter mais de 200 mil habitantes, a cidade é um importante pólo regional, que conta com fábricas importantes como a da Nestlé. Culturalmente, no entanto, a cidade é quase nula. O único museu a ser visitado é o ‘capenga’ Centro Cultural de Garanhuns que é a antiga estação do trem, que na antiga pista foi adaptado o único teatro da cidade com os bancos dos antigos vagões. Pouca coisa a ser visitado no local, algumas máquinas antigas de jornal e uma exposição fotográfica sem muitos atrativos.

Ainda no centro da cidade, as opções de visitação são a catedral (que está com sua parte interna em reforma), o mosteiro de São Bento o Palácio Celso Galvão, onde funciona a Prefeitura. A atração mais interessante do centro da cidade é o parque Rubens Van Der Linden que é um oasis no centro de Garanhuns, lindo e bem cuidado, é um lugar que põe inveja na grande maioria das cidade brasileiras.

Caminhando rumo a entrada da cidade, pode-se apreciar o prédio do Seminário São José, bem perto da fonte luminosa. Um pouco mais a frente está a sede a chocolateria Sete Colinas, que é uma atração, mas que deixa muito a dever a várias similares que temos no sul do Brasil. Logo a frente da Sete Colinas está a igreja do Perpétuo Socorro com arquitetura diferente, como uma abóboda preenchida com cadeiras de plástico e um altar que muita capela de fazenda não deixa nada a dever.

O Relógio das Flores e o Pórtico de Entrada são os monumentos mais disseminados como atrações turísticas da cidade. O relógio é igual a tantos outros em outras cidades, e o pórtico de entrada é de gosto artisticamente duvidoso.

Um pouco mais afastado do centro está o Castelo de João Capão, que é uma construção particular que lembra um castelo, mas está inacabada e que o que está pronto não chama muita atenção. Em um dos pontos mais altos do estado de Pernambuco está o Cristo do Magano. Que apesar de oferecer uma vista panorâmica da cidade, a obra em si não tem nada de especial e nenhuma beleza particular, além de ser um ponto onde corre um vento gelado que nos faz esquecer que estamos em um dos estados de temperatura média mais elevada do país.

Enfim, Garanhuns não estaria em nenhum roteiro turístico como ponto obrigatório. Uma visita a cidade se justifica se for a trabalho ou outro compromisso qualquer, mas como lazer, a opção não é aconselhável. Uma possível justificativa porque o nosso presidente deixou a cidade e nunca mais voltou a morar lá.

Classificação pessoal e arbitrária: duas estrelas

9 de mai. de 2012

“A felicidade é fácil” de Edney Silvestre. Record (2011), 219 páginas.



Edney Silvestre é mais conhecido como o repórter da Rede Globo e apresentador do Globo News Literatura na TV por assinatura. Porém seu romance de estreia “Se eu fechar os olhos agora” foi escolhido por diversos prêmios como o melhor romance do ano de 2009. É sempre um grande desafio lançar um livro depois de um grande sucesso e manter o nível. Silvestre não conseguiu, apesar de ser muito bom “A felicidade é fácil” fica muito aquém do seu antecessor.
O enredo é ambientado nos anos Collor, e tem um de seus protagonistas um publicitário que está envolvido em diversos esquemas de corrupção e como ele usufrui as beneficias ilícitas do poder (uma analogia com o valeoduto?). A trama se desenrola quando um grupo criminoso internacional resolve sequestrar o publicitário para forçá-lo a transferir o dinheiro desviado para a conta do grupo. No entanto, devido ao forte esquema de segurança que o empresário se impor, eles decidem por sequestrar o seu filho, mas em uma operação atrapalhada levam a criança errada. O final é previsível, apressado e deixa algumas nós soltos, bem diferente do primeiro romance de Silvestre.
Mas o que mais se destaca no livro, não é o enredo policial em si, mas sua ambientação. Os detalhes dos anos Collor, que incluem músicas, carros e o sonho de consumo dos “emergentes” nos levam de volta ao início da década de 1990. Em relação a política, Silvestre usa sua experiência como repórter para nos mostrar como se constroem os esquemas de corrupção ligados a campanhas eleitorais que ainda hoje são tão comuns em nosso país.
Outro destaque da narrativa de Silvestre são as cenas quentes de sexo, que poderiam até trazer um aviso que o livro é inapropriado para menores. Enfim, o enredo policial deixa a desejar, no entanto, o livro vale e muito pela narrativa e ambientação.

Classificação pessoal e arbitrária: quatro estrelas

11 de abr. de 2012

“Por quem os sinos dobram” de Ernest Hemingway. Bertrand Brasil (2011), 624 páginas.


O americano Hemingway dispensa apresentação, tendo inclusive vencido o Nobel de Literatura de 1954. Autor de clássicos como “O velho e o mar”, ele foi repórter durante a Guerra Civil espanhola que durou entre 1936-39. Desta sua experiência nasce o romance “Por quem os sinos dobram” foi amplamente aclamado desde seu lançamento na década de 1940, tendo inclusive vencido o prêmio de Livro do Ano pelos jurados do Pullitzer.
O protagonista do enredo é o ativista americano Robert Jordan que atua como dinamitador para o governo democrático que luta contra as tropas do general Franco, que sairiam vencedoras do conflito. Ele recebe a missão de explodir uma ponte durante uma ofensiva contra as tropas fascista. Para tanto, ele se embrenha nas montanhas no território dominado pelo lado de Franco, onde atuam bandos leais ao governo democrático.
Durante a missão Jordan conhece personagens caricatos. O velho sonhador emotivo, os soldados inocentes, o líder carismático decadente, a forte mulher militante e a ingênua e desprotegida apaixonada pelo heroi. Entre amizades, rusgas e paixões do protagonista, Hemingway nos leva para dentro do conflito, mostrando as crueldades e motivações de ambos os lados.
O grande destaque da narrativa é sem dúvida as dúvidas que o personagem principal é levado pela sua nova paixão e os questionamentos inerentes a toda guerra. O texto é tão bem escrito que o leitor é transportado para a Espanha, até parece cavalgar junto com os soldados durante a missão de Jordan e não seria estanho ter o reflexo de se desviar das balas durante os tiroteios.
O que o livro tem de nem tão bom, o papel de heroi reservado a um americano que leva suas convicções até a morte. O livro tem muito de roteiro de filme de Hollywood, mas o enredo previsível não diminui a maestria da escrita de Hemingway.

Classificação pessoal e arbitrária: quatro estrelas e meia.

31 de mar. de 2012

"Pantaleão e as visitadoras" de Mario Vargas Llosa. Alfaguara, 359 páginas



O peruano Llosa dispensa apresentações como vencedor do Nobel de Literatura de 2010. Em “Pantaleão e as visitadoras” ele mostra toda a sua genialidade em um livro que é a síntese da literatura no mais alto nível.
A história gira em torno do capitão do exército peruano, Pataleão Pantoja, que é enviado a selva peruana em uma missão inusitada: organizar um serviço de prostituição para os soldados e cabos que serviam na Amazônia peruana. Apesar de Llosa ter se inspirado em um fato real, seu romance está longe de ser baseado em acontecimentos verdadeiros, Llosa contou a história com um humor fino e divertido que é impossível resistir.
O humor é principalmente pela seriedade que o capitão leva a sua missão. Ele administra as prostitutas em regime militar, e fazendo relatórios (em que registra o número de ‘prestações’ de cada prostituta e o tempo médio que cada um levava) em que Llosa brinca com a rigidez do serviço militar. Por fim, a missão de Pantoja é tão bem sucedida que torna o SVGPFA (Serviço de Visitadoras para Guarnições, Postos de Fronteira e Afins) se torna a instituição mais bem sucedida do Exército peruano fazendo o capitão Pantaleão uma personalidade nacional que dá até autógrafos.
Em meio às questões militares, Llosa nos transporta para a Amazônia peruana com a descrição do povo, geografia, história e costumes locais. Também aborda o conflito familiar gerado pela hipocrisia da classe média peruana, mas que são universais. E também faz humor com as crenças religiosas, ao criar um profeta que crucifica animais e pessoas e que ‘converte’ um grande número de pessoas tendo um final trágico.
Mas o grande destaque do livro não é o enredo, por melhor que este seja. A narrativa de Llosa é o que mais se destaca, misturando diálogos (ele escreve vários diálogos simultâneos que o leitor demora a se acostumar) com a narrativa em meio a relatórios militares integrais ‘secretos’, transcrição de programas de rádio e de jornais. Llosa é um mestre!



Classificação pessoal e arbitrária: cinco estrelas

11 de mar. de 2012


“As aventuras de Sherlock Holmes” de Arthur Conan Doyle. Zahar (2011), 416 páginas.



Sherlock Holmes dispensa apresentação, assim como seu companheiro Dr. Watson que é o narrador das doze histórias que compõem o livro. Todas, excelentes. Elas foram inicialmente publicadas na Strand Magazine no fim do século XIX. O livro é uma edição de bolso da Zahar, mas tem capa dura, ilustrações, excelente papel e um formato que não lembra em nada os livro de bolso tradicionais.
Quanto as histórias, é impressionante como em trinta páginas Doyle consegue criar uma atmosfera de mistério que prende leitor que não consegue parar de ler até a solução. Tão impressionante quanto a qualidade do texto é o seu final, que parece que vai ficar insolúvel, mas em poucos parágrafos Doyle mostra como Holmes simplifica fazendo-a parecer trivial. As histórias envolvem reis, túneis para assalto a banco, falsários, a Ku Klux Klan, drogas, roubos... enfim, todos os atrativos de uma boa histórias policial.
Outro grande destaque são as máximas imortalizadas por Sherlock, como a mais famosa dele que está no conto “O diadema de Berilos” ‘depois que se exclui o impossível, o que sobra, por mais improvável que seja, deve ser a verdade’.
Indispensável a todos que apreciam boas histórias escritas em um alto nível.

Classificação pessoal e arbitrária: cinco estrelas