O livro é uma autobiografia da
obra do, considerado por muitos, maior executivo que a televisão brasileira já
teve e que é atribuída a qualidade apregoada aos programas produzidos no
Brasil, o Boni. A primeira boa impressão que causa é que o livro é escrito pelo
próprio biografado e a qualidade do texto é enorme. Mas este detalhe está longe
de ser o melhor atrativo do livro, trata-se não de um registro da história da
televisão brasileira nos últimos cinquenta anos, mas um registro da história do
país neste período narrado por um de seus maiores protagonistas.
A grande curiosidade que leva ao
livro é entender como a Rede Globo se tornou tão grande que se constitui quase
como o quarto poder em nosso país, como ela deixou a concorrência tanto para
trás e como se mantém no topo a tanto tempo: todas as respostas são largamente
discutidas por Boni em seu livro. Outro grande destaque é que o autor não tem
pudor em revelar detalhes de bastidores, como o de enfraquecer concorrentes que
ameaçavam a liderança da Globo com artimanhas e as brigas internas dentro da
Globo que quase o levaram para a Bandeirantes com toda a sua equipe (teria a
Band se tornado um concorrente da Globo se o seu proprietário tivesse aceitado
a proposta de Boni?).
A prosa de Boni é uma delícia, leva
os leitores a risos e gargalhadas com as histórias de bastidores, que tem entre
seus protagonistas, pessoas tão distintas como Dercy Gonçalves e Hans Donner. São
vários capítulos, começam com muito pouco da vida pessoal do biografado e indo
direto para sua carreira que começou no rádio, passou por anos na publicidade
até chegar ao cargo de executivo de televisão em emissoras sem recursos e que
não tiveram sucesso de audiência. Segue com as histórias dos primeiros anos da
televisão no Brasil, suas grandes primeiras emissores, a forte concorrência
entre elas no início.
Um destaque a parte é como Boni
transformou o Brasil no país das novelas de qualidade, começando com a compra
dos direitos de ‘Direito de nascer’ para a TV Rio. Conta como foi sua frustrada
tentativa de implantar o Telecentro para a TV Tupi e sua chegada em fevereiro
de 1967 a Globo. Outro ponto que se destaca é que além de se preocupar com a
qualidade de conteúdo, Boni se preocupava com o modelo do negócio televisão,
sempre se preocupando em ser um negócio lucrativo e sustentável. A vários
capítulos com histórias de bastidores de personagens marcantes da televisão
brasileira como Chacrinha, Janete Clair, Regina Duarte, Chico Anysio e Roberto
Carlos.
Detalhes dos incêndios as
emissoras de televisão, sobre a censura que atingiu novelas que se tornariam ícones
como Roque Santeiro, os festivais e o nascimento do carnaval Globeleza são
pontos discutidos em capítulos que esclarecem várias dúvidas dos leitores. Boni
conta como implantou a televisão em rede no Brasil inspirado no modelo
americano e que a grade de programação não fora invenção dele mas já
era usual destes os rádio da década de 1940.
Talvez a maior polêmica envolva o
Jornal Nacional, desde sua criação até os episódios da censura ao movimento da
Diretas Já e o edição completamente a favor de Collor contra Lula em 1989. Boni
não tem puder de tocar nestes assuntos, esclarece que se tratou de um ordem
direta de Roberto Marinho para editar o debate e que ele ficou satisfeito com o
resultado e que a edição precipitou a saída de Armando Nogueira da Rede Globo.
O livro acaba com a saída de Boni
da direção da Globo por não se sentir a vontade com a direção da nova geração
dos marinho, seu ‘exílio’ TV Vaguarda no interior de São Paulo e o futuro da tv
aberta no Brasil. Um livro sem dúvida imperdível para entender melhor o Brasil
da segunda metade do século XX.
Classificação pessoal e
arbitrária: cinco estrelas
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Se você for postar na opção deo anônimo, coloque seu nome.