28 de fev. de 2013

“O livro do Boni” de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho. Casa da Palavra (2011), 459 páginas.



O livro é uma autobiografia da obra do, considerado por muitos, maior executivo que a televisão brasileira já teve e que é atribuída a qualidade apregoada aos programas produzidos no Brasil, o Boni. A primeira boa impressão que causa é que o livro é escrito pelo próprio biografado e a qualidade do texto é enorme. Mas este detalhe está longe de ser o melhor atrativo do livro, trata-se não de um registro da história da televisão brasileira nos últimos cinquenta anos, mas um registro da história do país neste período narrado por um de seus maiores protagonistas.
A grande curiosidade que leva ao livro é entender como a Rede Globo se tornou tão grande que se constitui quase como o quarto poder em nosso país, como ela deixou a concorrência tanto para trás e como se mantém no topo a tanto tempo: todas as respostas são largamente discutidas por Boni em seu livro. Outro grande destaque é que o autor não tem pudor em revelar detalhes de bastidores, como o de enfraquecer concorrentes que ameaçavam a liderança da Globo com artimanhas e as brigas internas dentro da Globo que quase o levaram para a Bandeirantes com toda a sua equipe (teria a Band se tornado um concorrente da Globo se o seu proprietário tivesse aceitado a proposta de Boni?).
A prosa de Boni é uma delícia, leva os leitores a risos e gargalhadas com as histórias de bastidores, que tem entre seus protagonistas, pessoas tão distintas como Dercy Gonçalves e Hans Donner. São vários capítulos, começam com muito pouco da vida pessoal do biografado e indo direto para sua carreira que começou no rádio, passou por anos na publicidade até chegar ao cargo de executivo de televisão em emissoras sem recursos e que não tiveram sucesso de audiência. Segue com as histórias dos primeiros anos da televisão no Brasil, suas grandes primeiras emissores, a forte concorrência entre elas no início.
Um destaque a parte é como Boni transformou o Brasil no país das novelas de qualidade, começando com a compra dos direitos de ‘Direito de nascer’ para a TV Rio. Conta como foi sua frustrada tentativa de implantar o Telecentro para a TV Tupi e sua chegada em fevereiro de 1967 a Globo. Outro ponto que se destaca é que além de se preocupar com a qualidade de conteúdo, Boni se preocupava com o modelo do negócio televisão, sempre se preocupando em ser um negócio lucrativo e sustentável. A vários capítulos com histórias de bastidores de personagens marcantes da televisão brasileira como Chacrinha, Janete Clair, Regina Duarte, Chico Anysio e Roberto Carlos.
Detalhes dos incêndios as emissoras de televisão, sobre a censura que atingiu novelas que se tornariam ícones como Roque Santeiro, os festivais e o nascimento do carnaval Globeleza são pontos discutidos em capítulos que esclarecem várias dúvidas dos leitores. Boni conta como implantou a televisão em rede no Brasil inspirado no modelo americano e que a grade de programação não fora invenção dele mas já era usual destes os rádio da década de 1940.
Talvez a maior polêmica envolva o Jornal Nacional, desde sua criação até os episódios da censura ao movimento da Diretas Já e o edição completamente a favor de Collor contra Lula em 1989. Boni não tem puder de tocar nestes assuntos, esclarece que se tratou de um ordem direta de Roberto Marinho para editar o debate e que ele ficou satisfeito com o resultado e que a edição precipitou a saída de Armando Nogueira da Rede Globo.
O livro acaba com a saída de Boni da direção da Globo por não se sentir a vontade com a direção da nova geração dos marinho, seu ‘exílio’ TV Vaguarda no interior de São Paulo e o futuro da tv aberta no Brasil. Um livro sem dúvida imperdível para entender melhor o Brasil da segunda metade do século XX.
Classificação pessoal e arbitrária: cinco estrelas

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