20 de jun. de 2012

“Guia politicamente incorreto da história do Brasil” de Leandro Narloch. Leya (2011), 367 páginas.



O livro não é escrito por historiador, mas sim por um jornalista oriundo do grupo Abril que, entre outros cargos, foi repórter da Veja. Isto já dá um indicativo do que se trata o livro, o politicamente incorreto é a postura de assumir a posição de uma direita, que em muitos casos pode até ser classificada como reacionária. É uma defesa da manutenção dos previlegios da elite que sempre mandou no país e desfrutou das benesses que são oriundas da exploração das classes menos favorecidas. Assim como a Veja, o autor parece não se conformar com a distribuição de renda, criação de um grande número de universidades federais e a grande mobilidade social do governo do PT. Entre outros aspectos, o final do livro é uma tentativa de amenizar a ditadura militar e justificar as torturas e mortes que causaram em mais de duas décadas de regime ilegítimo. Tenta apresentar o milagre econômico com uma grande vitória da ditadura, o que convence um leitor mais desavisado, pois não tem uma única linha sobre a moratória que se seguiu, e ainda culpa a inflação pela bagunça que estava a economia do país quando os militares voltaram para o quartel. Para se ter uma ideia do tom do discurso, a última frase do livro é “Viva o Brasil capitalista”. só faltou completar com um viva a economia neoliberal e suas crises financeiras que prejudicam exatamente os que menos tem a ver com elas.
Como bom jornalista da escola da Veja, não se preocupar em contrapor opiniões, se limitando a adotar a posição de um especialista que concorda com seu ponto de vista para justificá-lo como verdade. Usa o depoimento de uma única testemunha como prova inequívoca da verdade absoluta que o autor tenta provar. Manipula dados e tabelas que para um leitor leigo parecem inquestionáveis. Enfim, o livro parece uma reportagem de Veja, e a qualidade das fontes é a mesma: teria Narloch consultado o Carlinhos Cachoeira também?
Apesar do direitismo reacionário do autor, o livro tem muito mérito. A leitura é agradabilíssima. Os textos são claros e serve para contrapor algumas defesas e provocar reflexão sobre diversos pontos.
Discute o papel dos índios no início da colonização que faz qualquer um continuar considerando Iracema e Peri como personagens de literatura. Na questão da escravidão, tenta mostrar, o óbvio, que não foram os portugueses que a inventaram e era mais uma questão social que de etnia, tanto que os negros que acendiam socialmente tinham seus próprios escravos. Traz curiosidades sobre grandes nomes da literatura brasileira pouco divulgadas, como o papel de censor de Machado de Assis e a posição escravocrata de José de Alencar.
Fala sobre o nascimento aristrocata do samba e como ele se incorporou a cultura popular brasileira. Mostra como a justificativa simplória da Guerra do Paraguai não resista a uma análise mais detalhada. Traz dados que mostra que Aleijadinho não pode ter sido autor de todas as obras que lhe atribuem, e ainda, as que com certeza teria sido do artesão que décadas depois de sua morte teria sido chamado de Aleijadinho são de qualidade artística baixa. Fala das polêmicas que envolveram a anexação do Acre. Defende o Império como um regime quase ideal (típico de elitistas). E no final, faz uma defesa do regime militar que justifica o título do livro.
O livro é bem escrito, proporciona uma leitura agradável, traz dados interessantes como a origem das cores verde e amarela da nossa bandeira, mas é escrito por um reacionário que não tem pudor de defender sua posição direitista.

Classificação pessoal e arbitrária: três estrelas e meia. 

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