Rubem Fonseca dispensa maiores apresentações, trata-se de um de nossos maiores escritores vivos, autor de, entre outros, “Agosto”. “Feliz ano novo” é uma obra originalmente publicada em 1975, trata-se de uma coleção de contos, quinze, onde a temática sempre gira em torno da violência com grandes pitadas de sexo e abismo social e um pouco de ironia. São todos contos muito bem escritos, muito bem articulados e com enredo envolvente; o texto de Fonseca sempre é impecável e atraente.
Alguns dos contos Fonseca parece ter escrito para chocar com a violência. Em um conto existe um assalto seguido de mortes e estupros, as mortes sendo por motivo banal, a de testar o poder de uma arma. Outros trazem assassinos que matam só por prazer, sendo chefe de família que após o trabalho se divertem matando pessoas. Alguns trazem assassinos por acaso, como donas de casa de resolvem matar para resolver alguns problemas que as afligem.
A questão do sexo é outra com que Fonseca parece querer chocar, tanto que o último conto do livro ele escreve uma entrevista com um escritor, que parece ser seu alterego, que se defende de acusações de escrever pornografias; seria uma defesa antecipada as críticas dos leitores? Outros contos falam de grandes empresários que se envolvem com travestis, prostituição, de cenas de sexos não consumadas e até sobre uma competição de quantidade de sexo há um conto.
O que mais chama atenção nos contos de Fonseca são as finas ironias, muitas que envolvem questões sociais, que pela época que foi escrito, não podiam ser críticas muito contundente. Favelados assaltantes, pobres que sonham em ser jogadores de futebol e não conseguem, desempregados que perdem a esposa para gente com trabalho e a humilhação do pedido de dinheiro de um amigo para outro são alguns dos temas tratados por Fonseca.
Existem outros contos que a ironia não é tão fina, é mais escachada, mas não envolve questões sociais. Um envolve canibalismo, outro questões de homossexualidade, além de um escritor que se considera um grande mestre, mas sem talento algum que acaba se envolvendo com acusação injusta de homicídio.
Em pouco mais de 150 páginas Fonseca nos mostra como se escreve em alto nível, com narrativas envolventes e muito diferentes umas das outras. Fonseca é um mestre, que vale ser lido e relido. Imperdível, sempre!
Classificação pessoal e arbitrária: cinco estrelas
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