2 de abr. de 2010

“Trapo” de Cristovão Tezza. Record (2007), 254 páginas.

Sem dúvida alguma Tezza é um dos grandes escritores contemporâneos, alguém que escreveu “O filho eterno” merece ser citado assim se só por este. No entanto, Tezza vai muito além desta obras, e outro grande livro dele trata-se de “Trapo”.

O personagem que dá nome ao livro é um jovem que se suicida antes de o livro começar, ele está no livro inteiro como um defunto que vive nas pessoas que ele conheceu e nas que ele não conheceu.

Tezza encontra um formato pouco usual em Trapo. O principal personagem vivo do enredo, e narrador, é o professor Manuel. Ele recebe a visita de uma então desconhecida senhora chamada Izolda que lhe dá inúmeros escritos do falecido Trapo. A intenção de Izolda é que Manuel leia e publique a obra de Trapo, que para Izolda é brilhante mesmo que ela não tenha lido uma única linha. Em meio ao enredo, Tezza insere trechos da obra de Trapo, poesias, mas principalmente cartas a sua amada Rosana.

O professor Manuel não aprecia muito a obra de Trapo, no entanto, se interessa por sua vida e os motivos que o teria levado ao suicídio. Manuel então resolve investigar sobre Trapo, os locais que ele freqüentava, seu melhor amigo, suas amigas, sua família e por ultimo resolve procurar a família de Rosana. Em meio a tudo isto, a vida do próprio Manuel é revelada, sua viuvez precoce, sua relação conturbada com a mãe, suas angústias e a monotonia de sua vida de aposentado na casa que vive só em Curitiba.

Com todas as informações da vida de Trapo – inclusive o suposto motivo de seu suicídio, Manuel resolve escrever um livro sobre a vida do poeta morto onde ele colocaria trechos da obra de Trapo dentro da narrativa da vida do poeta suicida. O leitor ao final descobre que a obra que o professor Manuel vai escrever é o próprio livro que Tezza escreveu. É um livro contado sua própria história.

Seria o professor Manuel um alterego de Tezza? Teria Trapo existido de verdade? Para mim é só literatura, porém quem quiser investigar todos os dados estão à disposição no livro. O que se pode ter certeza é de que “Trapo” é literatura de alto nível, que eu recomendo fortemente a todos que queiram se deliciar com um livro bem escrito.

Classificação pessoal e arbitrária: cinco estrelas

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