9 de mar. de 2010

“O primo Basílio” de Eça de Queirós. Editora Ática (2006), 326 páginas.

Há quem diga que os clássicos devem ser relidos de tempos em tempos. Não sei se por esta máxima ou por que outro motivo resolvi reler “O primo Basílio” depois de uns 15 anos e dos tempos de leitura obrigatória da escola. Não me arrependi, esta releitura me trouxe uma nova perspectiva sobre a obra de Eça e sobre a literatura portuguesa que eu acreditava que somente eu gostava de contemporâneos como Miguel Sousa Tavares.

A história todos devem conhecer, Luísa é deixada sozinha em sua casa em Lisboa por seu marido Jorge que vai trabalhar no interior de Portugal. Neste período solitário, Luísa recebe a visita de seu antigo namorada e primo Basílio. Os dois deixam a antiga paixão aflorar, Luísa apaixonada e Basílio procurando uma aventura. A empregada intercepta uma das cartas de amor entre o casal extraconjugal e passa a chantageá-la, e quando Jorge retorna a situação fica tensa para Luísa. O final não vou contar para que aqueles que ainda não tiveram o prazer de ler o romance de Eça o façam com o prazer de descobrir o final pela palavras de Eça de Queirós.

O que me chamou atenção nesta releitura de Eça foi como sua obra é baseada no deboche da sociedade portuguesa em que ele viveu na segunda metade do século XIX, e do próprio país em si que Eça enxergava como atrasado e retrógrado. Ele ataca todas as instituições com extremo sacarmos, da família a religião, passando pelos artistas e burocratas. As coincidências entre a descrição de Machado de Assis da sociedade carioca do mesmo período e a feita por Eça força-nos a traçar um paralelo entre a obras destes dois grandes escritores. Ambos são críticos sociais e o fazem suas críticas com extremo deboche e de maneira muito cômica.

Uma característica de Eça que também me chamou atenção é seu extremo detalhismo em descrever os cenários onde as cenas ocorrem, o leitor é transportado para lá mesmo que não queira. O sexo e a traição estão presentes, não somente em Luísa, mas em sua amiga Leopoldina. Assim como Machado de Assis onde a traição conjugal está presente em quase todas as suas obras, Eça usa e abusa da infidelidade.

Eu confesso que torci pela oprimida empregada sair bem da história por querer que uma pessoa reprimida pela sociedade se sobressaísse pelo menos em um romance. Acredito que outros leitores tenham se identificado com a solidão de Luísa que o marido preteri ao trabalho, ou com o marido incompreendido ou mesmo com o sedutor Basílio. E neste ponto de construir personagens tão característicos e fortes, com os quais os mais diferentes leitores possam se identificar é mais um dos pontos fortes de Eça.

O primo Basílio é um livro que deve ser lido e relido muitas vezes, nele há de tudo: amor, paixão, traição, sexo, incesto, intrigas. Enfim, não falta nada que uma grande literatura necessite.

Classificação pessoal e arbitrária: cinco estrelas

2 comentários:

  1. Eu sou leitor assíduo do Letras e Milhas porque, sendo o Felipe um leitor assíduo - muito mais que eu - e apaixonado por História, aprendo muito por aqui. Continue assim, companheiro. Um grande abraço!

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  2. Este eu li a muuuuuuito tempo, nem me lembrava mais da trama.....:)

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