22 de fev. de 2010

"Os espiões" de Luis Fernando Verissimo. Alfaguara (2009), 142 páginas.

O que se pode falar de um livro de Luis Fernando Verissimo? Uma possível resposta para esta pergunta é que o talento literário é hereditário, se bem que isto não seria justo com Luis Fernando. Sua literatura só lembra a de seu pai em termos de qualidade, além disto não consigo imaginar dois escritores com estilo tão diferentes.
Luis Fernando não é só romancista, ele mesmo se diz cronista antes de tudo. No entanto, a qualidade de seus romances é tão grande que não seria nenhum exagero dizer que ele é um dos melhores romancistas brasileiros contemporâneos. Além de "Os espiões" ser indispensável, outro romance nesta categoria do autor é "Clube dos anjos -Gula" lançado em 1998. Pena que Verissimo se dedique tão pouco aos romances, seria um prazer enorme poder ler mais de sua literatura.
Sobre "Os espiões" especificamente, trata-se que um policial-suspense-comédia, onde não faltam assassinatos, sexo, bebida, risadas e até incesto. O protagonista é um funcionário de uma editora de Porto Alegre que tem entre suas incumbências avaliar originais, ele se sente entediado e procura por algo que quebre a monotonia que se tornou sua vida. Seus pareceres na editora dependem de seu estado, quando de ressaca sempre recusa-os com um tom áspero nas respostas aos autores, o que lhe fez ter uma cicatriz acima do olho.
Sua vida muda quando recebe pelo correio um envelope com os primeiros capítulos de uma autora desconhecida do interior do Rio Grande do Sul, da cidade fictícia de Frondosa. Verissimo cria toda uma atmosfera com personagem, histórias e até as intrigas históricas, cria um universo próprio bem pitoresco para sua trama.
Nas cartas com o originais, a autora desconhecida declara que vai se matar, e o editor resolve salvá-la. Para isto envia inicialmente um de seus amigos para a cidade, ao que se seguem mais quatro. Quando todos estão lá, eles se envolvem no meio de uma decisão de campeonato e em boatos de suborno e com as intrigas da oposição em relação ao prefeito, que é esposo da autora desconhecida.
O final tem alguma surpresa e não decepciona. No entanto, o que incomoda no livro é a falta de atualidade em relação obtenção de informação e a comunicação. Como no caso que o editor gostaria de ter informações sobre a cidade e não as obtém até consultar uma pessoa distante ao seu círculo de amizades. Para obter tais informações hoje em dia não é necessário mais que um computador ligado a internet. Em outra passagem a comunicação entre os personagens só se dá através de telefonemas e ocorre com dificuldade em função disto, o que não se justifica em dias de messenger e de lanhouses presentes em qualquer cidadezinha. No final, um dos personagens deixa uma namorada em Frondosa, que se comunica apenas através de carta e telefonemas - cartas?! A impressão que dá é que o romance já estava pronto na era pré-internet, ou que Verissimo se mantém nela. Em nenhum dos dois casos o livro no formato final poderia fica com estas brechas, caberia ao editor da vida real "adaptar" a segunda década do século XX a obra do grande escritor, pois ela incomoda um pouco o leitor e deixa que ele não seja absorvido por completo na narrativa de Luis Fernando Verissimo.
A grande marca do livro são as frases de efeitos cômicas - é impossível não ri com diversas delas distribuídas ao longo da narrativa.

Classificação pessoal e arbitrária: quatro estrelas e meia.

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