18 de dez. de 2009

“Manual da paixão solitária” de Moacyr Scliar. Companhia das Letras (2009), 216 páginas.


Imagine um livro que misture o misticismo e a "espiritualidade" de Paulo Coelho, ficção científica de livros de banca de jornal e com erotismo barato digno da editora Playboy. Não precisa imaginar, este livro existe e se chama "Manual da paixão solitária".
Além de tudo o livro é muito chato, na primeira metade Scliar faz uma adaptação livre do capítulo 38 do livro do Gênesis da Bíblia. Nesta metade quem narra é Shelá, filho de Judá e sobrinho do famoso José que interpretou o sonho do faraó dos anos de vacas gordas e magras. Scliar usa a história narrada na Bíblia e explora as entrelinhas deixadas no livro sagrado dos cristãos para fazer sua adaptação. Para quem acha a Bíblia um livro de ficção mal escrito e confuso, imagine o que vai achar de um romance que o usa como inspirador?
Para contar sua história, Scliar cria os manuscritos de Shelá, onde ele narra suas angústias como que para um psiquiatra. Nestes escritos ficcionais, Shelá revela a homossexualidade do irmão mais velho Er, que casa com Tamar, mas não consuma o casamento e prefere o suicídio ao martírio de conviver com sua homossexualidade. Tamar então casa com o irmão do meio de Shelá - Onan, como era tradição de sua tribo. Apesar de este consumar o casamento, ele se recusa a engravidá-la usando de técnicas rudimentares. Shelá conta como desejava Tamar, desde o instante em que a viu, e deste desejo não consumado por Tamar que vem o título do livro de Scliar.
O livro é muito chato, pois mesmo quem nunca leu a Bíblia passa a conhecer a história contada no trecho abordado na primeira na primeira metade do livro, lido a muito custo. No entanto, não satisfeito Scliar usa a outra metade do livro para contar a mesma história, agora narrada por Tamar. Neste ponto a paciência do leitor comum chega ao limite e chegar ao final do livro passa a ser um desafio considerável.
E ainda existe um terceiro narrador em terceira pessoa em um congresso de discussões bíblicas no tempo presente onde o tema é; advinhem... o capítulo 38 do Gênesis. Também este narra um romance nada incomum entre um professor e sua aluna que jurava odiá-lo. Claro, Scliar não deixa de lado os detalhes eróticos.
Existem momentos em que o narrador bíblico parece dialogar com o tempo presente, ao melhor (pior?!) estilo "Memórias póstumas de Brás Cubas". O texto traz termos nas narrações de Shelá e de Tamar que não parecem ser nada bíblicos; suruba, pronome, esperma, tesão e até fake. Outro detalhe que chama a atenção do texto de Scliar é sua obsessão por pênis grande, ele como médico poderia procurar ajuda especializada para resolver este problema em vez de dividi-lo com seus leitores. Também a falta de consistência da história criada pelo autor chama a atenção, pois primeiro ele diz que Judá não tinha beleza física, e depois diz que ele não teve dificuldade de consegir um bom casamento devido a sua boa aparência física; ou uma coisa ou outra!
Existem erros tipográficos e alguns equívocos gramaticais, como a opção pelo travessão em vez de reticências. Em outros pontos não sabemos se a frase foi mal construída ou é erro tipográfico, como em "Eu matéria de modelagem eu era um artista". Seria "Em matéria..."? A parte cômica do livro é quando Scliar lança mão de ficção científica. Ele imagina como seria um "cruzamento" entre o esperma de Shelá e a rainha de um formigeiro. É tão ridículo que chega a ser engraçado. Sem citar o dialógo entre tufos de barba.
Como grande fim, sabemos que Tamar engana Judá - sempre mulher fica com a culpa, e engravida de gêmeos. Um dos quais vai dar origem à uma linhagem que chega até... Jesus.
Classificação pessoal e arbitrária: duas estrelas.

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