5 de dez. de 2009

“Aventuras provisórias” de Cristovão Tezza. Record (2007), 146 páginas.







A primeira impressão que tive da obra de Cristovão Tezza foi extremamente positiva com "O filho eterno" que é um dos livros mais corajosos já escritos. Para tentar chegar a uma opinião se Tezza é o tipo de escritor de uma obra só, ou se todos seus livros têm qualidade resolvi ler "Aventuras provisórias". O motivo pelo qual optei por esta obra em especial é que o secretário de estado da educação de Santa Catarina comprou milhares de exemplares para serem distribuídos nas bibliotecas das escolas estaduais e depois mandou recolher o livro por ter "linguagem inapropriada" para adolescentes. Ora! Um livro que um burocrata da educação não entende deve ter alguma qualidade, e realmente é este o caso de "Aventuras provisórias" que é quase tão bom quanto "O filho eterno".

O motivo de eu gostar tanto da literatura de Tezza é que ele parece escrever para mim. Ele parece saber meus sentimentos e parece fazer questão de deixá-los em exposição na sua obra para que todos possam conhecer minhas fraquezas. Se meu engocentrismo deixasse eu perceberia que os sentimentos que Tezza trata em sua obra são comuns a todos os da espécie Homo sapiens.

Em "Aventuras provisórias" o enredo fira em torno de João; um homem de meia-idade estabelecido financeiramente que está em crise existência típica de sua idade. Ele encontra Pablo, um amigo que não tem emprego, foi torturado durante a ditadura militar e tem como grande objetivo na vida o de construir uma casa em uma comunidade hippie para convencer Carmem, a quem viu apenas três vezes, a ir morar com ele.

O ponto central da crise de meia-idade de João é sua condição de filho única de uma mãe solteira possessiva que parece fazer questão de que todos os relacionamentos amorosos do filho não sejam bem-sucedidos. João é o narrador, que conversa constantemente com o leitor, e fica grande parte lembrando das mulheres com quem não teve relações duradoras, Dóris e Mara, e no tempo da narração é casado com Glorinha, que está grávida - outro motivo que pode justificar sua crise existencial.



A relação entre João e Pablo é outro eixo do livro. João ajuda financeiramente Pablo para que ele consiga construir sua casa na comunidade hippie. João inclusive visita a tal comunidade, onde de início pensa em ficar, mas que no quarto dia sai de rumo a sua volta para Curitiba. Quando finalmente Pablo termina sua casa e convida Carmem para ir morar com ele, ela aceita.

Apesar de não se tratar "Aventuras provisórias de um thriller de jeito algum, Tezza consegue fazer um mistério sobro o destino de Pablo no fim do livro. O final é inteligente, tocante e trágico, para Pablo. Para João, o final é feliz e acontece antes de seu filho nascer.






Classificação pessoal e arbitrária: quatro estrelas e meia.

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