27 de out. de 2010

“1822” de Laurentino Gomes. Editora Nova Fronteira (2010), 328 páginas.

Depois do excepcional “1808”, a grande dúvida era se Laurentino Gomes conseguiria escrever um livro do mesmo nível. E não é que ele conseguiu. “1822” não é tão espetacular quando seu antecessor, mas chega muito perto, acaba com aquele gostinho de “quero mais” característico dos ótimos livros.

Como o nome sugere, o livro conta a história da nossa independência. O grande protagonista é, claro, D. Pedro I, ora tratado como herói por Gomes, ora como anti-herói. Os coadjuvantes são as pessoas, que no entender do autor, ajudaram D. Pedro I a tornar o Brasil unido após a Independência, impedindo o seu desmembramento como ocorreu na América Espanhola; José Bonifácio, Imperatriz Leopoldina e o inglês Lord Cochrane. Gomes descreve o ambiente mundial das primeiras décadas do século XVIII com maestria, mostrando a conjutura internacional que tornou a independência do Brasil inevitável.

O grande mérito do livro é sem dúvida a desmitificarão de alguns pontos. Como por exemplo, que a independência do Brasil foi pacífica. Gomes descreve a guerra que se seguiu ao grito do Ipiranga, como o longo cerco na Bahia, a guerra em Pernambuco, a invasão do Maranhão por Cochrane e a batalha de Jenipapo. Milhares de brasileiros morreram para manter nosso país unido e o mito que isto se deu de forma pacífica é muito difundido.

Outro ponto muito positivo de “1822” é a descrição da Guerra Civil portuguesa durante a década de 1830 entre os irmãos, D. Pedro e D. Miguel. Eu sempre tive curiosidade de conhecer o que teria levado a esta guerra, quais os seus lances e suas consequências. O livro de Gomes torna claro os acontecimentos que levaram a ela e como D. Pedro venceu de maneira improvável o irmão e colocou sua filha mais velha no trono de Portugal (mesmo tendo ela nascido em terras brasileiras) antes de morrer ainda jovem.

Para quem gosta de fofocas históricas, o livro é cheia delas. Como a situação estomacal debilitada de D. Pedro no dia do grito, a sua epilepsia e o papel de D. Leopoldina nos bastidores da Independência. O fato de D. Pedro guardar o cadáver de seu primeiro filho, com uma amante, embalsamado em seu escritório, sua atuação na maçonaria. O momento mais “Caras” do livro é a parte que Gomes dedica a Marquesa de Santos, os detalhes do romance entre os dois pode até deixar o leitor mais sensível encabulado. Outros destaques são a sugestão de que D. João VI e seu “filho” D. Miguel eram ambos gays e que D. Pedro teve filhos até com duas freiras.

Enfim, o livro de Gomes é muito bom, sua leitura é imperdível. Só não consegue superar “1808”, mas isto não poderíamos mesmo exigir do autor. Com certeza, já estamos esperando o “1889” para que conheçamos da maneira irresistível da narrativa de Gomes, a história e os bastidores da proclamação da República.

Classificação pessoal a arbitrária: quatro estrelas e meia.

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