Devo confessar aos leitores deste blog que não é preciso muito para me agradar quando o assunto é Renato Russo. No entanto, trata-se de uma ótima biografia de parte da vida do cantor e compositor que muitos de nós admiramos tanto. Esta não é a única boa biografia de Renato Manfredini Júnior, Arthur Dapieve (que assina a orelha deste livro) já lançara pela Ediouro (2006) o delicioso “Renato Russo: o trovador solitário”, no entanto, o livro de Marcelo é superior em número de páginas, detalhes, fotos e na construção do contexto histórico, porém o livro de Dapieve supera o de Marcelo devido a abordar toda a vida de Renato . Dois aspectos podem decepcionar o leitor, como eu me decepcionei ao pegar o livro o olhar o seu tamanho tem-se a impressão que se trata de uma biografia definitiva da vida e carreira de Renato: primeiro diz respeito ao período que o livro aborda que vai desde o nascimento até o ano de 1988, os outros anos de vida de Renato são apenas citados sem nenhum detalhe que empolgue o leitor; o segundo é que o livro não é só sobre Renato Russo e a Legião Urbana, ele é mais geral, inclui todo o movimento de roqueiros de Brasília que levou as chamadas bandas dos anos oitenta, sendo a vida de Renato o foco principal de apenas alguns capítulos, mas não de todo o livro. Feitas estas ressalvas, o livro é de uma leitura agradável, daquelas que provocam o leitor a esticar sempre a leitura por mais cinco minutos, e apesar do tamanho o livro acaba sendo lido com facilidade e muito prazer.
Aos que se interessar em ler “Renato Russo: o filho da revolução” fica um conselho, leia com calma, sem pressa. Só desta maneira será possível se deliciar com a grande quantidade de fotos durante a narrativa, com letras originais e que nunca foram gravadas, mas que os fãs da Legião Urbana identificam trechos de futuros clássicos da banda e muitos outros registros fotográficos, muitos deles coloridos. A quantidade de detalhes trazidos pelo autor, tanto em relação aos acontecimentos do período, mas principalmente em relação à vida de Renato pode ser entediante para os não admiradores do cantor e compositor, porém para que os que o admiram, desfrutar da quantidade de detalhes de sua vida é um deleite, detalhes como a reprovação no vestibular da UnB e as discussões após as aulas da faculdade de jornalismo na CEUB são apreciados em cada detalhe pelos legionários.
O livro se divide em sete capítulos. No primeiro Carlos Marcelo nos leva aos lances políticos-culturais do Brasil nas décadas de 1960 e 1970, com especial atenção para a construção e os primeiros anos da capital federal. Em um dado momento a narrativa é tão envolvente que até se esquece sobre o tema principal do livro, pois a vida da família Manfredini é apenas um detalhe na descrição dos anos de ditadura militar e de como se construiu o ambiente sócio-político-cultural em que Renato Russo cresceu.
No segundo capítulo, aborda o período entre o diagnóstico de epifisiólise, as cirurgias, o erro médico, a recuperação, amizade com Hebert Vianna e termina com o encontro com os irmãos Lemos (Flávio e Fé). Mais uma vez, os acontecimentos na vida da família Manfredini e de seu primogênito (Renato) são detalhes na ótima descrição do período, meados da década de 1970. Como pano de fundo, acontecimentos marcantes no Brasil da época, como a morte de Juscelino e seu enterro em Brasília e a abertura política lenta, segura e gradual do governo Geisel. Outros que marcaram todo o mundo, como o surgimento do movimento punk. Este movimento teve grande influência na vida de Renato, transformado o menino até então nerd em um fã de roupas rasgadas e cheias de alfinetes, cabelos coloridos e músicas de três acordes.
No capítulo três começa a descrição da carreira artística do cantor, com a fundação por eles e mais dois amigos do mítico Aborto Elétrico, em janeiro de 1979. Em outubro do mesmo ano o primeiro show e a gravação em fita cassete onde estavam às canções que virariam clássica, “Que país é este?” e “Metrópolis”. No Brasil a transição para o governo Figueiredo, a revogação do AI-5 e a anistia. No mundo, o assassinato de John Lennon causa impacto em Renato. O Aborto Elétrico não teve vida longa devido as tensões entre Renato e o baterista da banda, Fê Lemos. Primeiro uma briga em um show e depois uma discussão por causa de uma letra de Renato, “Química”.
No capítulo quatro, finalmente é dedicado o foco na vida de Renato Russo, porém ainda existe o contexto histórico no Brasil, a eleição direta para governadores em 1982. Sobre Renato, o início de sua carreira como jornalista, a saída definitiva do Aborto Elétrico e o início da fase como Trovador Solitário, em companhia exclusiva de seu violão no palco dos shows. A idéia da Legião Urbana e o convite a Marcelo Bonfá para assumir as baquetas da banda. Primeiro show da Legião em Patos de Minas acaba com a quase prisão de todos. Este primeiro show não contava ainda com Dado, os outro dois integrantes eram Paraná e Paulista. Após vieram vários shows no Distrito Federal. Paraná sai da banda devido à divergência com Bonfá. Renato convida Ico Ouro Preto para seu lugar, não fica muito tempo sendo substituído por Dado Villa-Lobos que não sabia tocar guitarra quando Renato o convidou. Estes convites para guitarristas da Legião causam irritação em Dinho Ouro Preto (irmão de Ico) que pleiteava a vaga de guitarrista da banda, ele mais tarde entraria para os vocais do Capital Inicial no lugar da irmã de Fê Lemos, Helena. Legião se apresenta pela primeira vez em São Paulo para um público de cinquenta pessoas. O capítulo termina com a notícia que a Legião Urbana fora contratada por uma grande gravadora.
No capítulo cinco os percalços da gravação do primeiro disco, que incluiu a incorporação do baixista Renato Rocha devido a impossibilidade de Renato Russo tocar seu baixo devido a sua tentativa de cortar os pulsos. O contexto histórico também tem grande destaque com o evento das “Diretas Já” e sua rejeição no congresso. No final do capítulo, após brigas constantes com a gravadora, o primeiro disco fica pronto.
No capítulo seis, o lançamento do primeiro disco e sua recepção boa pela crítica e público, a volta de Renato para o Rio e o lançamento dos primeiros discos da Plebe Rude e do Capital Inicial. No contexto histórico, a eleição de Tancredo no colégio eleitoral, sua morte, a posse de Sarney e a morte de Médici. O ano da Legião é coroado com a escolha de seu primeiro disco como o melhor do ano pela principal revista especializada em músico dos anos oitenta. Ao final a gravação do segundo disco e do terceiro em apenas duas semanas, que incluíram músicas do Aborto Elétrico e dos tempos do trovador solitário.
No último capítulo, a descrição do grande show em Brasília em 1988 o estádio Mané Garrincha que foi um desastre para a Legião e abalou a relação da banda com a sua cidade de origem. O show tem grande destaque no livro, além deste capítulo final também o prólogo o aborda, devido ao autor ter sido um dos muitos espectadores presentes ao estádio e que saíram decepcionados com a banda.
No epílogo é narrado sem grandes detalhes o período entre 1988 e a morte de Renato em 1996, que ocasionou o suicídio de um fã na Bahia.
Ao final fica uma dúvida: será verdade que a vida imita a arte? Pois, fica impressão que lemos um romance saído da criatividade de um escritor. Porém, como nós somos testemunhas oculares de muito do conteúdo narrado, sabemos que Carlos Marcelo foi o mais fiel possível aos fatos. Vale à pena a leitura, seja por Renato, seja por Carlos Marcelo, seja por conhecer mais do Brasil, das bandas dos anos oitenta e do mundo da segunda metade do século XX. Chama a atenção a falta de legendas nas fotos. Mesmo que sua fonte seja citada ao final do livro, nem todas são descritas e várias não têm seu contexto explicitado, o que é uma pena, pois estes detalhes deixam os leitores com água na boca sobre a origem de algumas fotos, e se decepcionam ao não terem sua curiosidade saciada pelo escritor. Não é a esperada biografia definitiva de Renato Manfredini Júnior, mas trata-se que uma excelente biografia do início da vida e carreira de Renato Russo e um ótimo retrato do contexto e história das bandas de Brasília dos anos oitenta.
Classificação pessoal e arbitrária: quatro estrelas.
Aos que se interessar em ler “Renato Russo: o filho da revolução” fica um conselho, leia com calma, sem pressa. Só desta maneira será possível se deliciar com a grande quantidade de fotos durante a narrativa, com letras originais e que nunca foram gravadas, mas que os fãs da Legião Urbana identificam trechos de futuros clássicos da banda e muitos outros registros fotográficos, muitos deles coloridos. A quantidade de detalhes trazidos pelo autor, tanto em relação aos acontecimentos do período, mas principalmente em relação à vida de Renato pode ser entediante para os não admiradores do cantor e compositor, porém para que os que o admiram, desfrutar da quantidade de detalhes de sua vida é um deleite, detalhes como a reprovação no vestibular da UnB e as discussões após as aulas da faculdade de jornalismo na CEUB são apreciados em cada detalhe pelos legionários.
O livro se divide em sete capítulos. No primeiro Carlos Marcelo nos leva aos lances políticos-culturais do Brasil nas décadas de 1960 e 1970, com especial atenção para a construção e os primeiros anos da capital federal. Em um dado momento a narrativa é tão envolvente que até se esquece sobre o tema principal do livro, pois a vida da família Manfredini é apenas um detalhe na descrição dos anos de ditadura militar e de como se construiu o ambiente sócio-político-cultural em que Renato Russo cresceu.
No segundo capítulo, aborda o período entre o diagnóstico de epifisiólise, as cirurgias, o erro médico, a recuperação, amizade com Hebert Vianna e termina com o encontro com os irmãos Lemos (Flávio e Fé). Mais uma vez, os acontecimentos na vida da família Manfredini e de seu primogênito (Renato) são detalhes na ótima descrição do período, meados da década de 1970. Como pano de fundo, acontecimentos marcantes no Brasil da época, como a morte de Juscelino e seu enterro em Brasília e a abertura política lenta, segura e gradual do governo Geisel. Outros que marcaram todo o mundo, como o surgimento do movimento punk. Este movimento teve grande influência na vida de Renato, transformado o menino até então nerd em um fã de roupas rasgadas e cheias de alfinetes, cabelos coloridos e músicas de três acordes.
No capítulo três começa a descrição da carreira artística do cantor, com a fundação por eles e mais dois amigos do mítico Aborto Elétrico, em janeiro de 1979. Em outubro do mesmo ano o primeiro show e a gravação em fita cassete onde estavam às canções que virariam clássica, “Que país é este?” e “Metrópolis”. No Brasil a transição para o governo Figueiredo, a revogação do AI-5 e a anistia. No mundo, o assassinato de John Lennon causa impacto em Renato. O Aborto Elétrico não teve vida longa devido as tensões entre Renato e o baterista da banda, Fê Lemos. Primeiro uma briga em um show e depois uma discussão por causa de uma letra de Renato, “Química”.
No capítulo quatro, finalmente é dedicado o foco na vida de Renato Russo, porém ainda existe o contexto histórico no Brasil, a eleição direta para governadores em 1982. Sobre Renato, o início de sua carreira como jornalista, a saída definitiva do Aborto Elétrico e o início da fase como Trovador Solitário, em companhia exclusiva de seu violão no palco dos shows. A idéia da Legião Urbana e o convite a Marcelo Bonfá para assumir as baquetas da banda. Primeiro show da Legião em Patos de Minas acaba com a quase prisão de todos. Este primeiro show não contava ainda com Dado, os outro dois integrantes eram Paraná e Paulista. Após vieram vários shows no Distrito Federal. Paraná sai da banda devido à divergência com Bonfá. Renato convida Ico Ouro Preto para seu lugar, não fica muito tempo sendo substituído por Dado Villa-Lobos que não sabia tocar guitarra quando Renato o convidou. Estes convites para guitarristas da Legião causam irritação em Dinho Ouro Preto (irmão de Ico) que pleiteava a vaga de guitarrista da banda, ele mais tarde entraria para os vocais do Capital Inicial no lugar da irmã de Fê Lemos, Helena. Legião se apresenta pela primeira vez em São Paulo para um público de cinquenta pessoas. O capítulo termina com a notícia que a Legião Urbana fora contratada por uma grande gravadora.
No capítulo cinco os percalços da gravação do primeiro disco, que incluiu a incorporação do baixista Renato Rocha devido a impossibilidade de Renato Russo tocar seu baixo devido a sua tentativa de cortar os pulsos. O contexto histórico também tem grande destaque com o evento das “Diretas Já” e sua rejeição no congresso. No final do capítulo, após brigas constantes com a gravadora, o primeiro disco fica pronto.
No capítulo seis, o lançamento do primeiro disco e sua recepção boa pela crítica e público, a volta de Renato para o Rio e o lançamento dos primeiros discos da Plebe Rude e do Capital Inicial. No contexto histórico, a eleição de Tancredo no colégio eleitoral, sua morte, a posse de Sarney e a morte de Médici. O ano da Legião é coroado com a escolha de seu primeiro disco como o melhor do ano pela principal revista especializada em músico dos anos oitenta. Ao final a gravação do segundo disco e do terceiro em apenas duas semanas, que incluíram músicas do Aborto Elétrico e dos tempos do trovador solitário.
No último capítulo, a descrição do grande show em Brasília em 1988 o estádio Mané Garrincha que foi um desastre para a Legião e abalou a relação da banda com a sua cidade de origem. O show tem grande destaque no livro, além deste capítulo final também o prólogo o aborda, devido ao autor ter sido um dos muitos espectadores presentes ao estádio e que saíram decepcionados com a banda.
No epílogo é narrado sem grandes detalhes o período entre 1988 e a morte de Renato em 1996, que ocasionou o suicídio de um fã na Bahia.
Ao final fica uma dúvida: será verdade que a vida imita a arte? Pois, fica impressão que lemos um romance saído da criatividade de um escritor. Porém, como nós somos testemunhas oculares de muito do conteúdo narrado, sabemos que Carlos Marcelo foi o mais fiel possível aos fatos. Vale à pena a leitura, seja por Renato, seja por Carlos Marcelo, seja por conhecer mais do Brasil, das bandas dos anos oitenta e do mundo da segunda metade do século XX. Chama a atenção a falta de legendas nas fotos. Mesmo que sua fonte seja citada ao final do livro, nem todas são descritas e várias não têm seu contexto explicitado, o que é uma pena, pois estes detalhes deixam os leitores com água na boca sobre a origem de algumas fotos, e se decepcionam ao não terem sua curiosidade saciada pelo escritor. Não é a esperada biografia definitiva de Renato Manfredini Júnior, mas trata-se que uma excelente biografia do início da vida e carreira de Renato Russo e um ótimo retrato do contexto e história das bandas de Brasília dos anos oitenta.
Classificação pessoal e arbitrária: quatro estrelas.
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