
Para quem é fã ou apenas admira a música brasileira não pode perder o livro de Ruy Castro. Ele conta em detalhes o nascimento e o caminho percorrido pela Bossa Nova (desde o surgimento do nome até o disco gravado por Tom Jobim junto com Frank Sinastra). As histórias são irresistíveis e Castro consegue nos levar até os anos 50 e 60 de tal forma que desperta um saudosismo até mesmo em que não viveu estas décadas. A quantidade de histórias de bastidores torna a leitura de cada página uma delícia única, e faz o leitor querer cada vez mais, e olha que não é pouco o que Castro ofereceu em seu livro. O cenário construído pelo autor em meio a inocência dos anos 50 e o golpe militar da década seguinte é outro grande atrativo do livro.
O grande protagonista do livro é sem dúvida João Gilberto. Castro conta sua história desde infância em Juazeiro na Bahia, sua ida para Salvador e depois para o Rio de Janeiro; contratado para cantar em um conjunto vocal “Garotos da Lua” e para trabalhar na Câmara dos Deputados. A personalidade singular de João é explorada ao máximo pelo autor e sua aversão a cumprir horário e a comparecer em compromissos como motivador de sua demissão do grupo vocal e da Câmara e que foi o levando aos poucos ao fundo do poço (junto com o hábito de fumar maconha). Esta fase ruim da vida e carreira de João o levou a peregrinar em meados da década de 1950 por Porto Alegre, Minas Gerais e pela Bahia, aonde chegou a ser internado em um hospício. Depois desta peregrinação, ele retornou ao Rio de Janeiro para ajudar a fundar o movimento musical que seria batizado de Bossa Nova e mudaria para sempre a música, não só brasileira, mas de todo o mundo. O João Gilberto contemporâneo, que se auto-exilou em seu apartamento no Rio e que quase só se comunica com o mundo exterior pelo telefone é a maneira como Castro termina de contar a história de João que se confunde com a da própria Bossa Nova.
Porém, o livro não é apenas sobre João Gilberto, existem outros protagonistas e muitos coadjuvantes. Um pianista que tocava em boates a noite é outra grande personagem do livro, Tom Jobim. Um diplomata que era poeta que ganhava e fazia bicos em jornais cariocas, Vinícius de Morais. Outra protagonista é a música que dá nome ao livro, segundo o autor ela teoria sido inspirada a Tom Jobim pelo assovio de uma empregada doméstica, e Vinícius colocou a letra na melodia de Tom. Visto de hoje, pode parecer estranho que a música que é tida como tendo dado início a Bossa Nova quando João Gilberto a gravou foi gravada antes por Elizete Cardoso, Chega de Saudade não era uma música inédita quando ela causou a revolução na voz de João Gilberto. O que causou a revolução na música deve ter sido a mistura entre a música de Tom e Vinícius com a maneira como João a cantava.
Entre as histórias da Bossa Nova algumas são deliciosas. Como quando Vinícius disse que São Paulo era o túmulo do samba quando alguns paulistas não valorizaram que Johnny Alf estava tocando no piano de um bar na capital paulista. As reuniões na casa de Nara Leão, os escândalos de Elis Regina, a briga pelos direitos autorais, a fuga de grandes nomes da Bossa Nova para os Estados Unidos e várias outras histórias que são imperdíveis para quem quer saber mais sobre a nossa música como a desconstrução do mito que “Garota de Ipanema” foi feita no bar Veloso.
Classificação pessoal e arbitrária: quatro estrelas e meia.
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